sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O pseudo ativismo digital

Hoje li este artigo interessante no blog do Ethos. Ele trata o tema de como as redes sociais tornam – ou não – o mundo menos desigual e mais inclusivo. O que mais me chamou a atenção foi a frase de encerramento do artigo. Achei-a jugular.

Quantas vezes eu deixei de encaminhar para toda a minha lista de contatos aquele email sobre o massacre das focas ou orcas? Ou não dei o “like/curtir” em conteúdos similares? De alguma forma eu sempre me incomodei com essa forma cômoda de me dizer ativista de alguma causa. Imaginem-se, no conforto de um sofá de design sueco, teclando num notebook fabricado em Taiwan, calçado com tênis feito na China, bebendo vinho francês ou chileno, e, cumulo da incoerência, dando um “like/curti” no artigo sobre trabalho infantil na Ásia. É como me sinto. Por mais que eu seja um cidadão consciente e responsável – creio, essa é a realidade. A Internet e as redes sociais contribuíram sem duvida para a democratização dessas causas, dessas informações que antes levavam anos a atingir a maioria da população. E foram se criando cada vez mais ferramentas para tentar fazer do comum cidadão, um ser mais participativo, mais ativo nessa construção de uma sociedade melhor, mais justa, mais inclusiva. Criaram-se mil uma ferramentas para facilitar essa conexão, como se o comum cidadão fosse um ser debilitado, preguiçoso, portador das piores doenças mentais que o tornariam num ser desconexo do mundo real.

Resultado: a cena que descrevi acima! Uma música dos Living Colour, uma banda que eu gosto muito dizia “I sent my twenty dollars to Live Aid and paid my guilty conscience to go away”. Isso é cada vez mais possível hoje. É muito simples eu ter a sensação de “ter feito a minha parte” ao encaminhar o dito e-mail para a lista completa de contatos – ainda por cima nem verifico se o teor da mensagem é verídico, coisa que uma pesquisa básica resolveria – ou ainda ao publicar na minha pagina do Facebook ou Orkut. Ou seja, a minha sensação é que o tiro vai saindo cada vez mais pela culatra. Quanto mais se facilita o acesso a essas causas, mais se contribui para que as pessoas fiquem confortavelmente instaladas na ilusão de estar a participar de alguma mudança civilizacional.

Notícia pessoal! A mudança requer sujar as mãos um pouco mais. Não é tão simples assim. O lado obscuro da força é forte, organizado, resiliente – é, também existem do outro lado, e joga sujo! Pensem nisso.

Fui!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Programa pro equidade de gênero

O Grupo PAR (onde trabalho) aderiu ao Programa Empresa Cidadã, do Ministério da Fazenda. Para quem não sabe, de forma simplificada, esse programa permite que as empresas deem seis meses de licença maternidade para as suas empregadas, em troca de incentivos fiscais. Lembro que na lei, a licença é de apenas quatro meses.

A adesão a esse programa foi um passo importante porque o grupo é composto de 70% de mulheres, na maioria em idade de ter filhos. A adesão ao programa levantou internamente outra bola, a da adesão ao Programa Pró-equidade de Gênero (PPG) da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da Republica.

Este dois assuntos correlatos lembraram-me o post sobre a necessidade de coerência. A adesão ao PPG é muito mais complexa e completa do que a maioria das empresas parece pensar. Não se trata de uma certificação que dá para conseguir com meia dúzia de mudanças cosméticas. Os indicadores exigidos só são conseguidos com mudanças culturais e estruturais mais profundas. Para obtenção do selo a avaliação acontece durante 12 meses e a empresa tem de realizar com sucesso pelo menos 70% das ações do roteiro. A maior parte das ações visam dar transparência dos tratamentos dados em processos susceptíveis de haver discriminação de gênero – recrutamento, seleção, carreira, salário, benefícios – ao mesmo tempo que provocam a discussão interna sobre a coerência do posicionamento da empresa sobre o mesmo assunto.

Pessoalmente, nunca trabalhei em empresas que não tivesse nenhum tipo de discriminação em relação a gênero, sexo, raça ou similares. O pior é que na maior parte das vezes nem nos damos conta do que é realmente discriminação (vide o post sobre os profetas).

Vai ser um caminho árduo, mas necessário. Pelo menos o Grupo já mostrou a intenção. Se vamos chegar lá sem atritos, já é outra história. A discussão do tema é irremediável numa estrutura com maioria de mulheres e no entanto tão poucas em cargos gerenciais. É verdade que todos – mulheres e homens – dizem que não existe sexismo no tratamento do assunto, que apenas deixamos o mercado resolver o assunto. Pois então o mercado está errado. Ele é sexista, racista e mais outros istas que não vou citar aqui. Dada essa situação, cabe às empresas responsáveis – como acredito ser a nossa – fazer a sua parte para corrigir as anomalias. Simples assim.

Como eu costumo dizer, não vai ser fácil. Nunca ninguém disse que seria fácil. É só perguntar às mulheres. Muitas delas até me dizem que não querem ser promovidas por serem mulheres mas sim por serem competentes. Concordo. Até atingirmos esse grau de evolução humana teremos que nos contentar com políticas positivas como esta.

Abraços.

Fui!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Educação inclusiva para uma nova realidade

Eu nunca gostei de estudar. Pois é. Nunca me senti bem no sistema de ensino tal como ele existia – e ainda existe. A ideia de ser fechado numa sala e ter de, de alguma forma, engolir tudo o que um professor diz era algo muito estranho. Hei de me lembrar sempre da minha primeira aula de filosofia no ultimo ano do secundário. O professor abriu a aula dizendo que “filosofia é a arte e capacidade de pensar”. A minha reação foi “mas, peraí, eu JÁ sei pensar!”. E ele nunca mais me viu na aula. No final do ano, passei na mesma.

Uma coisa que muito me incomodava era a constante pressão para ser o melhor. Para todo o sistema – professores e pais – eu tinha de me esforçar para ser o melhor aluno, no máximo de matérias/disciplinas possíveis. Era uma coisa que eu não percebia muito bem. Porque tinha que ser sempre o melhor? Porque não era suficiente ser só bom? Como eu era um aluno razoavelmente inteligente, dotado de boa memória auditiva, não era muito difícil ter notas acima da média. Mas nunca tentava ter a melhor nota possível, ou ser o numero 1 da turma. E essa atitude se prolonga até hoje. Uma boa dose de preguiça também ajuda, claro.

Esta historia serve de contextualização para a seguinte reflexão: esse sistema de educação que premia os melhores, os números 1s, la creme de la creme, etc, é apenas o reflexo da sociedade competitiva em que vivemos. Desde pequenos que ouvimos essa conversa que temos que ser sempre os melhores, os vencedores (expressão tipicamente estadunidense que foi abraçada com toda força por quase todo o Mundo moderno). Eu me lembro do meu pai me dizendo “filho, não importa o que escolhas fazer mais tarde, desde que sejas o melhor a fazê-lo. Podes ser varredor de rua, desde que sejas o melhor varredor!”. Hmm, sim, claro. Sabemos que não é bem assim, não é? Aliás, a teoria foi pro brejo quando eu lhe disse que queria ser músico. Lembram da dificuldade em ser coerente? Mas voltemos ao assunto do post...

Como eu disse, não entendia a cobrança para ser o melhor. Hoje entendo porque não entendia. O melhor é sempre um só. Os melhores são sempre minoria, um status exclusivo – oposto de inclusivo. Como podemos medir a qualidade e/ou evolução de uma comunidade, uma escola, uma cidade ou um país, unicamente baseado na avaliação de uma minoria? É como se disséssemos que a África é branca e rica, baseando-nos na população de Cape Town. Essa abordagem redutora provoca a fabricação de uma quantidade astronômica de jovens adultos que vão reger as suas vidas com base em premissas elitistas e excludentes, premissas que vão continuam a validar ad nauseum essa dicotomia entre primeiro, segundos, terceiros e quartos mundos, invés de provocar uma reflexão mais ponderada sobre o que é realmente a medida da nossa civilização. Ou seja, enquanto o mundo inteiro premiar/admirar/lisonjear/idolatrar/recompensar/incentivar os melhores/primeiros/ganhadores, não podemos ficar surpreendidos por uma visão egoísta e etnocêntrica das coisas. Nem sei se um é causa ou efeito do outros – ovo ou galinha. Mas sei que temos o poder de decidir que a partir deste momento, a melhor escola não é aquela que tem o aluno mais brilhante mas sim aquela onde todos os alunos passam de classe, onde os mais inteligentes ganham pontos por ensinar aos menos providos, onde os melhores atletas só ganham pontos em esportes de equipe aleatoriamente escolhidas (para evitar a reunião dos “melhores”, onde os professores têm por objetivo não deixar ninguém para trás, etc, etc. Tenho a certeza que se parássemos para pensar um pouco, poderíamos encontrar novos indicadores de um novo modelo educação infinitamente menos excludente que o atual. Mais ideias?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Profetas do novo Mundo

Ontem fui a uma palestra motivacional. E foi uma experiência interessante. Interessante é uma forma educada de dizer ridícula. Não tenho sorte, por que sei que existem bons profissionais nessa área. O palestrante era um profissional famoso, com “mais de quatro mil palestras em milhares de empresas com perfis bem diferentes”. A palestra dele durou cerca de duas horas e, em minha opinião, foi um show de stand-up comedy entrecortado por algumas mensagens de teor profissional sobre gestão de pessoas e envolvimento dos empregados. Para mim, o show se resume a diversas piadas sexistas e escatológicas – contei umas vinte piadas, todas desfavorecendo a mulher, e passou uns 30 minutos fazendo rir todo o mundo falando de fezes – tudo regado aqui e ali por citações da bíblia. A minha preferida foi quando ele disse que se dependesse dele, ele colocaria todos os ateus num avião e mandava explodir os motores para ver quem é mesmo ateu. Achei que era um pensamento pouco caridoso para quem acredita em um deus misericordioso, mas enfim.

E foi constrangedor ver que todo o mundo riu e saiu feliz de lá. Houve até quem gravasse a palestra para poder partilhar. Poucas pessoas tiveram a mesma opinião que eu sobre o evento. Não vou citar aqui o nome do senhor, pois o objetivo deste texto não é acabar com a vida profissional do dito palestrante. Afinal de contas, não tenho absolutamente nada contra ele nem lhe quero mal nenhum. Whatever rocks your boat! Apesar de tudo, se ele tem trabalho é porque alguém paga, não é? Quem sou eu para julgar.

O objetivo deste artigo é comentar sobre como essa situação me fez pensar no quanto os profissionais – eu me incluo nesse grupo – são ávidos de liderança, de direcionamento, de pessoas que nos inspirem a nos tornarmos melhores, profissional e pessoalmente. E eu já vi coisas fantásticas na Internet, inovadoras, entusiasmantes, transbordando conhecimento com aplicação pratica no nosso dia-a-dia. Estou a falar de pessoas que têm um discurso coerente e consistente, com aplicação no mundo profissional. Pessoas que fazem pessoas crescer realmente.

Infelizmente, temos dificuldade de separar o joio do trigo. Pelo meio aparecem muitos charlatães que vendem vento. Autênticos profetas do nada, com discursos vazios, frases feitas, conceitos simplistas e citações da bíblia, que arrogantemente se posicionam como portadores da ultima verdade em como motivar pessoas. O que aconteceu ontem foi um excelente exemplo. Ninguém saiu da palestra mais motivada para fazer o seu trabalho, ninguém aprendeu algum conceito novo que desse outra perspectiva de futuro profissional, ninguém ficou mais esclarecido sobre o que a empresa espera dele ou dela, ninguém saiu da palestra mais engajado. No melhor dos casos, a maioria saiu de lá mais leve porque tinha rido durante um par de horas. Para isso a empresa poderia ter pagado uma sessão de verdadeiro stand-up comedy ou até de cinema. Teria saído provavelmente mais barato e o efeito teria sido o mesmo.

Isto tudo me fez lembrar de uns vídeos geniais. Este...


E este...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Que vivam tempos interessantes (e históricos)!

No domingo passado, dia da eleição da Dilma, não pude deixar de pensar que, apesar de tudo, vivo uma época excepcional. Durante a minha vida aconteceram alguns momentos históricos, momentos marcantes, alguns bons, outros menos. É o que desejo a qualquer pessoa, como diz o ditado chinês, “que vivam tempos interessantes” ou “que vivam em tempos interessantes”.
 
Não dá para listar todos, mas assim de memória, eu vi o fim da guerra colonial portuguesa e a libertação dos PALOPs (países africanos de língua oficial portuguesa) entre 72 e 75, estava vivo quando John Lennon foi assassinado, vi o desmantelamento da URSS, assisti em direto na televisão à queda do muro de Berlim e consecutivo desmantelamento do bloco de leste – lembro-me do julgamento e execução do ditador romeno Ceausescu, o aparecimento do computador, do BBS e depois da internet, vivi os momentos de angústia do atentado do 11 de setembro, a morte de Michael Jackson, o acidente que custou a vida a Ayrton Senna, o fim da guerra fria, etc.

Num passado mais recente eu vejo dois grandes momentos, daqueles que de fato talvez mostrem o virar de uma civilização. Não faço mínima idéia de vai ser para melhor – embora tenha obviamente essa esperança – ou para pior, mas que são momentos simbólicos, são sim: a eleição do primeiro negro à presidência dos Estados Unidos e a eleição da primeira mulher à presidência do Brasil.
 
Tenho a esperança que daqui a uns anos tenho a certeza que olharemos para trás e veremos que tivemos a honra de testemunhar a história enquanto esta acontecia, mais uma vez. Independentemente da sua posição política, é difícil não reconhecer o passo gigantesco que o povo brasileiro deu ao eleger uma mulher para o seu cargo soberano mais alto. Eu já falei aqui algumas vezes da masculinidade do universo corporativo e político. Muitos se escondem por trás da falácia do auto-regulamento do mercado – seja ele qual for, que o mercado é justo etc. Na realidade notamos que o mercado nunca é livre – existem influenciadores, lobbies etc, e ainda por cima ele é racista e misógina. Interessante ver que, salvo erro, mesmo na eleição que apresentou mais mulheres entre os candidatos com reais chances de ganhar (duas mulheres e um homem), nenhum partido respeitou a cota de pelo menos 30% de mulheres que tinha que apresentar nas suas chapas. Surreal, não? Por isso considero a eleição da Dilma um momento histórico. Uma mulher no poder: já era mais que tempo!

E desejo que a presidenta Dilma também continue a viver tempos interessantes, e que ela contribua para que a população possa também viver tempos cada vez mais interessantes. Espero ela governe com justiça e transparência, que tenha estratégias consistentes de desenvolvimento sustentável que beneficiem a maioria dos brasileiros, independentemente da sua raça, cor ou credo, que a sua presidência seja inclusiva, com uma equipe coesa e impermeável à corrupção, que o seu governo recupere a diretriz do estado laico para todos ao mesmo tempo que defende o direito e liberdade de cada um praticar a sua religião ou crença – qualquer religião ou crença. E o mais importante, em minha opinião, que faça da melhoria da educação pública o foco principal do seu mandato, pois só assim as pessoas vão crescer, ter melhores empregos, se tornarem consumidores e eleitores conscientes.

Mas também espero que a oposição esqueça depressa a mágoa da derrota e volte a fazer o papel que é esperado dela, numa democracia consolidada como a do Brasil: o de oferecer o contraponto e a crítica construtiva ao governo, o de fiscalizar a implementação das promessas, e de apresentar projetos que visem sempre a melhoria social e econômica da população. Afinal de contas esse é um objetivo comum a todas as chapas políticas, certo?

Em última análise, tudo isto só tornará o Brasil na potência e liderança mundial que merece ser.

É muita esperança? Nem por isso. O meu lema sempre foi ser sonhador... 
 

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A minha estrutura organizacional preferida

Hoje acordei pensando nas dificuldades que temos em implementar projetos nas nossas empresas e pensei em falar um pouco de estruturas organizacionais. Quando passei a certificação PMP debrucei-me um pouco mais sobre o assunto e aprendi que existem essencialmente três tipos de estruturas organizacionais – citando o Project Management Book of Knowledge (PMBOK):
  • Funcional: cada funcionário tem um superior bem definido, e as equipes são organizadas por funcionalidade (ex. finanças, vendas, operações, etc.) ou seguindo estruturas internas da empresa
  • Projetizada: a empresa é organizada em departamentos, sendo que cada um responde a um gerente de projeto. Algumas áreas dão suporte a todos os projetos
  • Matricial: a estrutura matricial é uma combinação das estruturas – funcional e projetizada. Com isso pode assumir características distintas que dependem exclusivamente do grau de relevância que cada extremo é considerado. Pode ser dividida em estrutural matricial fraca, forte e balanceada.
O quadro abaixo mostra um pouco dos impactos que cada tipo de estrutura tem na organização.
Vou ser polêmico (para um PMP, quero dizer) e dizer que a minha estrutura preferida é a matricial, preferencialmente balanceada ou forte. Por experiência as estruturas dos extremos – funcional ou projetizada – tendem a ser parciais demais, para um lado ou outro. A estrutura matricial é mais representativa, mais democrática. E é também a mais difícil de implantar porque a hierarquia é mais difícil de operacionalizar e evidenciar, ela não consegue existir num ambiente onde acontecem disputas de poder e tampouco convive pacificamente com egos gigantescos e inseguros que infelizmente estamos habituados a ver. Imaginam dois chefes partilhando a gestão de um recurso? Como dizem, cachorro que tem dois donos ou morre de fome ou come duas vezes.

Mas, quando esta estrutura consegue ser operacionalizada dentro de uma empresa cujos gerentes e respectivas equipes estão motivados por e alinhados com um planejamento estratégico claro, coerente e consistente, então temos vitória garantida. Em minha opinião, esta estrutura garante suficiente liberdade de ação para o Gerente de projetos, sem perder a ligação com as unidades funcionais e suas necessidades.

Na estrutura funcional, o Gerente de projeto não tem nenhum espaço de ação, não tem domínio e controle sobre nenhum recurso do projeto, e, no entanto conserva a responsabilidade pelo sucesso. Na estrutura projetizada ele pode se tornar um agente demasiado livre e desconexo do cliente interno que ele supostamente atende (os PMPs vão me dizer que isso nunca acontece, mas eu já vi isso acontecer mais de uma vez).

Na estrutura matricial é que se vê realmente a multidisciplinaridade das equipes – e pessoas que as compõem – brilhar. Esse formato incentiva a colaboração, a integração, e a cooperação para um objetivo comum, tudo atributos muito procurados por qualquer departamento de gestão de pessoas. E o mais fantástico é que a maior beneficiada é a empresa.

Como eu disse, esta é a mais difícil de todas, mas é a que garante melhores resultados a longo prazo, pelo grau de envolvência e integração que ela gera e incentiva.

E vocês? Que estrutura é a vossa? Reconhecem alguns atributos acima citados?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

FCKH8 (Warning - you will be offended)

Publicidade comparativa em campanhas políticas

Tenho ficado abismado pelos diversos spots publicitários que tenho ouvido no rádio, dos dois candidatos à presidência. Que a publicidade comparativa (baixem até a parte que interessa) também é usada no universo político, eu não tinha dúvida. O meu problema aqui é como ela é usada. Esse formato de publicidade nasceu nos anos 60 e, teoricamente tinha tudo para beneficiar o consumidor. As marcas iam apresentar em spots publicitários comparativos idôneos – era essa a premissa – entre os seus produtos e os produtos da concorrência. Ou seja, o consumidor ia poder calmamente escolher o que é melhor para ele, no conforto do seu lar, baseando-se em dados confiáveis e isentos. Na prática abriu-se simplesmente a porta para o que hoje é transparentemente chamado de Brand Smackdown ou destruição de marca. As marcas gastam rios de dinheiro para falar mal da concorrência. E esse modelo é aplicado no mundo político também. E é assustador.

Todos os dias de manhã, acordo com esses anúncios publicitários no rádio, melodias populares e memoráveis em tom de samba ou sertanejo, que me “ensinam” como o “Serra não é do bem” ou que a “Dilma promete e não cumpre”. Não tem um partido para salvar o outro. O nível é baixo e o jogo é sujo dos dois lados. É triste e assustador. Além de, na minha humilde opinião, ser uma estratégia profundamente ridícula.

Chamem-me de inocente, de cândido, mas eu penso que se eu fosse candidato á presidência de uma república, seja ela qual fosse, eu não ia gastar dinheiro para falar mal do adversário. Iria gastar dinheiro para mostrar o bem que fiz e falar do bem que faria caso fosse eleito. Não iria gastar verbas para falar do meu concorrente. E tentaria ser justo, reconhecendo o que o adversário fez bem e até aprendendo com os erros dele para fazer melhor. Ninguém erra tudo, isso não é possível. Esse é o tipo de candidato em que eu votaria. Esse é o tipo de sociedade em que eu gostaria de viver. Essa agressão gratuita entre pessoas que supostamente vão dirigir o país durante, pelo menos quatro anos, é algo de execrável de se ver. Como dizia Kurt Vonnegut, a agressão é o ultimo reduto da incompetência. Esse é o exemplo que eles dão, essa é a mensagem que eles passam: é correto falar mal dos outros, é justo atacar o adversário de forma baixa. Mais profundo ainda: vou ficar feliz por ser eleit@ graças aos defeitos do meu oponente do que pelas minhas qualidades de liderança e competência em gestão pública.

Quanto precisamos crescer e mudar ainda, não é? Pelo menos dos dois lados da cerca, os candidatos prometem investir na educação. Sem a educação das massas populares, isto vai continuar tudo na mesma...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Envolvimento das partes interessadas (os famosos stakeholders)

Nas ultimas 2 semanas fizemos uma série de encontros com empregados do grupo onde trabalho, para apresentar os objetivo e desafios da Gerência de Responsabilidade Social. Mais do que uma simples apresentação, tentamos ter uma conversa aberta e franca com eles, com o objetivo de os “trazer mais para dentro”. Dividimos o encontro em 2 partes e incluímos um exercício de preenchimento dos Indicadores Ethos pelo meio. Na primeira parte focamos na nossa história e na segunda parte falamos dos planos para o presente e futuro. O importante dessa segunda parte era eles entenderem o quão importantes e instrumentais eles podem ser, para que as mudanças que queremos ver implementadas possam acontecer.

E foi fantástico! Havia pessoas que tinham acabado de entrar para uma das empresas do Grupo, e outras que já fazem parte da casa há mais de 10 anos – a mais nova tinha 2 semanas de casa! O mais fascinante foi a felicidade que todos tiveram em conhecer um poço mais da história da empresa, os dilemas de crescimento, os problemas enfrentados e soluções encontradas, as possibilidades de crescimento profissional e, sobretudo, o espaço para participação nesse crescimento. Tão longe quanto me leva a memória, nunca trabalhei numa empresa onde todos estavam sempre felizes.

O empregado naturalmente acha sempre que a empresa onde ele trabalha paga mal, oferece péssimas condições de trabalho, tem níveis horrendos de qualidade de serviço e produtos para os seus clientes, só pensa no lucro e menospreza o meio ambiente, trata melhor os homens brancos do que as mulheres negras, etc... E muitas vezes até tem razão.

A corporação do seu lado tende a pensar que paga bem acima da média do mercado, pensa e gasta muito dinheiro para oferecer boas condições de trabalho, tem 100% do seu foco no atendimento ao cliente, tem uma visão sistêmica que lhe permite devolver para a sociedade em geral parte dos seus lucros, é justa no seu tratamento de gênero e raça, etc... E também, muitas vezes tem razão.

O exercício proposto de preenchimento dos indicadores foi um bom momento para equilibrar essa visão, tanto de um lado como do outro. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Uma coisa foi certa: o debate desses temas, tão queridos para ambas as partes, foi fantástico e rico. Se, antes desses encontros eu estava um tanto quanto pessimista em relação às mudanças que precisamos implantar, à saída dos encontros o espírito era outro. Totalmente. Existe um meio campo onde as partes interessadas podem se encontrar e construir jutos esse futuro.
A mensagem que quisemos passar para eles é relativamente simples, embora tenha um peso gigantesco. Eu repeti muito a frase do Ghandi, que dizia algo como “sejam a mudança que querem no mundo”. É importante perceber que as mudanças nunca acontecem sozinhas. Elas precisam sempre da participação ativa das pessoas. A empresa tem a sua parte da responsabilidade, claro, e trabalha nesse sentido, muitas vezes a uma velocidade muito mais lenta do que desejaríamos. Mas as pessoas – sim, sempre as pessoas – têm um responsabilidade muito grande nessa mudança, seja para provocá-la ou para incorporá-la. Não vale criticar a empresa onde trabalhamos e ao mesmo tempo não fazer nada para tentar mudar o que incomoda. Exige coragem? Claro. Nunca ninguém disse que seria fácil! :)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Cyber wars (conteúdo roubado de outro blog!)

Não vou inventar nada desta vez. Este post me pareceu tão bom que me pareceu importante replicar e viralizar. Se ainda não falei sobre o assunto, ainda o vou fazer. Trata-se de falar da relação conflituosa entre a Internet, os produtores de conteúdo e a noção de direitos de autor (copyrights, só para mostrar que falo ingréis).

Fernando Zarur, dono do blog acima citado, é uma amigo de longa data (5 anos é longa data sim!), trabalha na Suiça - entre um chocolate quente e outros - para a WWF, e, no seu tempo livre, mantém esse blog especializado em comunicação digital.

Nesse artigo ele sublinha a necessidade de mudança de paradgma da industria de conteúdos - qualquer conteúdo - para poder sobreviver na idade digital. Subescrevo a tudo o que ele aí diz, em gênero, numero e grau.

Porém - sim, tem sempre um - um dia vou aqui vociferar o que penso, do ponto de vista de quem cria esse conteudo, invés de quem só ganha dinheiro nas costas dos outros.

Voilá!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A ficha limpa e as eleições


Eu entendo perfeitamente que as pessoas votem no Roriz ou no que ele representa, sejamos justos. Se eu fizesse parte das pessoas a quem ele “deu” casa, terreno, seja lá o que mais, também votaria nele. É demagogia pensar de outra forma. O que é importante divulgar e combater é a corrupção que permitiu tais ações. Simples assim.


Não posso deixar de comentar o que aconteceu na política Brasileira, no que diz respeito ao voto da ficha limpa. Foi/está sendo um momento que me lembra os piores da política européia. Podemos fazer muito melhor que isso.

No dia da votação acompanhei um processo surreal. E, durante todo o processo é difícil não ver o passo a passo da manipulação da corrupção para que a lei não se aplique a esta eleição:

  • Primeiro: embora todo o mundo concorde que o Roriz – e outros na mesma situação de “ficha suja” – não deveria poder se candidatar ao Governo Federal, ele e os outros serão protegidos por uma tecnicalidade do ar do artigo 16 da constituição: “a Lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”. Ou seja, é como se a legislação, feita para proteger a democracia, a transparência e a justiça, fosse vítima dela mesma. Difícil de compreender, sobretudo quando todos concordam que a lei da ficha limpa vai ser positiva para o Brasil.

  • Segundo: numa democracia prevalece o sistema de “um homem, um voto”, certo? Não foi o caso aqui. Num tema tão sensível, um homem teve o poder de decidir do resultado votando duas vezes. No mínimo estranho num estado democrático.

  • Terceiro: pelo que percebi – e como explicou um professor de direito que passou na televisão ontem à noite – o assunto chegou a esta última instância, o Superior Tribunal Federal (STF) porque o candidato Joaquim Roriz recorreu da decisão da instância anterior, o Superior Tribunal Eleitoral (STE). Então, se o STF não decide – como é o caso neste empate técnico – deveria prevalecer a decisão da instância anterior, não é?
A possibilidade de reeleição do Joaquim Roriz me levou a um evento que aconteceu em Portugal nesta década. Fátima Felgueiras, prefeita de uma grande cidade portuguesa, foi acusada de todos os tipos de crimes que um político pode ser acusado. Antes de ver o mandato cassado, abandonou o cargo e fugiu do país – coincidentemente para o Brasil. Ficou foragida da justiça durante um tempo, até as eleições seguintes, momento em que voltou e ganhou de novo o mesmo cargo.
Como se não fosse suficiente, numa jogada de um genial maquiavelismo – maquiavelismo não é necessariamente mau, o candidato Roriz abandonou a corrida e lançou a esposa no lugar dele, já que os outros membros da família dele também têm a ficha suja, assumindo publicamente que na prática será ele na gestão. Ficou claro que nem todos os casos de figura estão previstos pela lei
Mais uma vez vejo a importância da educação como ferramenta principal para a evolução da sociedade. Sem educação as massas ficarão sempre à mercê dos profetas e demagogos. Não se trata de conseguir convencer as pessoas a pensar como eu mas sim de dar a todos as ferramentas para separar o joio do trigo, e deixar as pessoas a escolha do caminho, com liberdade e consciência. A solução é e sempre foi à educação. Desconfiem e fujam como da peste de todos os candidatos que não pensam assim.

Depois de escrever este texto, nos meus passeios internético vi que o Oded Grajew - de quem já falei aqui - também esceveu sobre o assunto. Mais palavras para quê...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Música para um Mundo melhor?


Post rápido!

Conheçam a galera do Confronto Soundsystem!

Quem são? Eles se apresentam assim: O Confronto Soundsystem é um coletido de DJs e produtores de Brasília, blá, blá, blá, Ogro, El Roquer, O Rei Zula, Fisch blá, blá, blá, desde 2004, blá, blá, blá, festas na rua, blá, blá, blá, dancehall, ragga, dub, blá, blá, blá, bassline, booty, freestyle, grime, dubstep, e tudo mais que der vontade de tocar, blá, blá, blá...

O que fazem: Festas! Mas não é qualquer tipo de festas. Os estilos de música são essencialmente aqueles que eles listam ali em cima (já lhe pedi mais reggae roots mas ainda não aconteceu...ou eu é que ainda não vi :P).

A melhor parte da "diversão" é serem festas de rua, onde qualquer pessoa pode participar. Qualquer mesmo! Em Brasília já vi festas no CONIC, na saida do metrô do Setor Comercial Sul, em casas particulares etc. O público que aparece nas festa é do mais heterogêneo possivel. É impressionante. Já vi motards, rastas, soul-freaks, rockers, amantes de MPB, sertanejo, eletronica...

O moto principal não é o $ - pelo menos assim parece, e é diversão garantida! O pessoal sabe das festas pelo site ou outras redes sociasi como o Twitter, Vimeo ou ainda o Flickr. Vão lá ver como o povo se diverte!
Porquê falar disso aqui no "Para um Mundo melhor..."? Porque acredito no poder regenerador, refrescante, revolucionário, despertador, etc. da música. Quando ela é feita por pessoas de bom coração então, o efeito é avassalador...

It Don't Mean a Thing (If It Ain't Got That Swing)

PAZ!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Truques para poupar dinheiro

Recebi um dia uma lista de dicas e truques para poupar dinheiro e fiquei fascinado como, inconscientemente já tinha colocado em pratica muitas das sugestões. Aqui vão 7 dicas que me lembro:

  1. Beleza: Um corte de cabelo ou penteado pode custar entre R$ 10 e R$ 50, dependendo dos lugares. Porque não aproveitar as escolas de beleza. Os alunos precisam de cobaias e você poupa uns tostões. O único inconveniente é a sessão ás vezes durar um pouco mais do que num salão, por conta da inexperiência. O liceu onde estudei tinha um curso profissionalizante de cabeleireiros que eu aproveitei muito. Até ficar careca. Literalmente.

  2. Vestuário: A última moda são as lojas que vendem direto da fábrica. Normalmente não são as ultimas coleções, mas a diferença de preço é gigantesca. Os “outlets” têm tendência a se multiplicar no mundo inteiro, como uma forma das grandes marcas se livrarem dos seus estoques antigos. Roupa de qualidade a preços baixos. Fiz e farei outra vez!

  3. Cinema: aqui temos 2 possibilidades. Muitos cinemas têm ingressos mais baratos num certo dia da semana, ou em certos horários. Aproveitem. A outra forma, para quem não pode ir ao cinema durante a semana às 15 horas, é usar as vantagens oferecidas por certos bancos. No meu caso, o meu cartão de credito me dá direito a meia entrada em um numero expressivo de salas de cinema. Há quase 2 anos que não pago entrada inteira no cinema. E é válido para outros tipo de lazer também, como teatro, zoológico, concertos etc, além de acumular milhas para viajar também ;)

  4. Eletricidade: eu sei, estas podem parecer básicas, mas valem sempre ser lembradas. Prefira a ducha ao banho de imersão (ainda poupa água), troque as suas lâmpadas por lâmpadas de baixo consumo, e use seus eletrodomésticos depois das 22h. Vai se surpreender com a diferença na conta.

  5. Comprar no atacado: se tiver como guardar/armazenar maior quantidade de coisas – é valido para comida, consumíveis, vestuário, etc – compre em quantidades maiores faça economia de escala. Eu tento ir uma vez por mês a um supermercado de atacado. Gasto o dobro do que gastaria em uma compra num supermercado varejista (uns R$ 400,00 invés de R$ 200,00). Em contrapartida, no supermercado varejista eu ia, em média 4 vezes por mês.

  6. Serviços do banco: o cheque especial é muito mais caro que certos empréstimos que o próprio banco pode fornecer. Eu usava o cheque especial até relativamente pouco tempo. Fui ao banco e pedi ajuda para sair da dívida, ou contrair dívidas mais baratas. Fale com o seu gerente, ele é pago – também – para isso. E se usa o cartão de credito, pague toda a dívida no final do mês. Assim você tem as vantagens do cartão de credito (milhas, pontos, prêmios etc) sem os inconvenientes (taxas de juro lá em cima...)

  7. Mobília: estou indo para o meu 3º apartamento em Brasília e desta vez eu jurei que não ia comprar nada que não precisasse, e quando tivesse que comprar, iria comprar usado. Freqüentei lojas de mobílias usada, li classificados, vasculhei leilões online, recebi emails de “garage sale”, e descobri maravilhas por pechinchas. Se eu tivesse comprado tudo o que comprei pelo preço do novo, teria gasto a bagatela de cerca de R$ 7.000,00. O total real foi de cerca de R$ 2.000,00 e muita coisa está em estado quase novo! Sem contar com o impacto no consumo consciente.
E vocês? Partilhem aqui comigo os vossos truques para poupar uns tostões. Tenho a certeza que isto se tornará um serviço público :)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sustentabilidade, relatórios e os riscos de greenwashing

Desde que comecei neste caminho da RSE e Sustentabilidade, tenho tido freqüentemente essa dúvida. Basta olhar ao nosso redor para ver que Sustentabilidade é a palavra do dia, não é? Ela é usada a torto e a direito, a publicidade das empresas mais diversas, de bancos a tabaqueiras (acreditem. Tabaco agora também é sustentável!). Se acreditássemos em tudo que por aí se diz, não teríamos muito com que nos preocupar, não é?

Pois eu preocupo-me com esse fenômeno de moda. Até que ponto as intenções são genuínas? Até que pontos as empresas querem realmente tentar mudar progressivamente a forma como são geridas, e, sobretudo, quais são os resultados que devem ser considerados para ser considerada uma “grande empresa” ou uma “empresa sustentável”? Como fugir do greenwashing (em português de gente, “tapar o sol com a peneira” ou “operação de cosmética”).

Em vários encontros dentro da rede de profissionais que trabalham com este tema, direta ou indiretamente, damo-nos conta do quanto as empresas têm progressivamente transformado os seus relatórios anuais em relatórios de sustentabilidade, integrando outros conceitos que não só os financeiros e mercadológicos. Ao mesmo tempo em que isso acontece, aparecem empresas de publicidade ou consultoria unicamente especializadas em assessorar as empresas a entregar um bom relatório de sustentabilidade anual. Ou seja, esses relatórios – sejam GRI, sejam baseados nos Indicadores Ethos, sejam iBase – tendem a se transformar em produto final, invés de serem meras ferramentas da mudança. E como produto final, eles criaram o seu próprio mercado, entre clientes – grandes empresas que não querem perder o bonde, fornecedores – essencialmente agências de publicidade que vão se especializando, consultorias – que, hipoteticamente ajudam as empresas a mudar sua cultura, e empresas de auditoria – que ganham assim mais um segmento de mercado.

Mas atenção. Não sou pessimista ao ponto de achar que os relatórios são inúteis, longe disso. Eu sei por fato que muitas empresas estão de fato a rever completamente a sua cadeia produtiva de forma a poder melhor avaliar os impactos – positivos e negativos – sobre todas as partes interessadas, e não unicamente clientes e consumidores. E também sei por experiência, que o simples fato de tentar fazer um relatório de sustentabilidade minimamente apresentável, ou de preencher os Indicadores Ethos de RSE, já provoca uma discussão interessante e difícil dentro das empresas. E a discussão é o primeiro passo para o questionamento, o que por sua vez provoca a mudança.

Neste artigo, apenas queria mostrar como me assusto com a direção tomada e questiono a efetividade do modelo. Mas também não encontrei nenhuma outra opção até agora. Só espero que a vinda da ISO26000 (ISO de RSE) não venha complicar mais as regras do jogo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Duas histórias parecidas, duas decisões por caminhos diferentes

Dizem que coincidência não existe. Mas por uma dessas coisas que não existem, tive a oportunidade, no espaço de 24 horas, de conhecer duas pessoas que estão a lidar com o mesmo problema e encontraram soluções opostas para resolvê-lo.

  • Situação A: Fernanda trabalha em uma empresa de limpeza de escritórios. Há um grande índice de atrasos e faltas na empresa. Ela vai resolver a questão sem mais conversas com o pessoal, descontando do salário os minutos não trabalhados, ainda que seus empregados sempre tenham uma razão para explicar tais ausências.

  • Situação B: João trabalha em uma instituição de educação técnica profissionalizante. Há um grande índice de atrasos e faltas na empresa. Ele vai resolver a questão implantando o café da manhã. Uma simples oferta de um copo de café com leite e um pão com manteiga, para quem chegar até os cinco minutos do horário de entrada. Depois disso, acabou café, não importa que explicações tragam seus empregados para os atrasos.
É difícil perceber quem vai ter melhores resultados na produtividade dos empregados? Quem vai ter o pessoal chegando 15 minutos antes do horário? Quem vai ser respeitado ou quem vai ter as ordens acatadas apenas por medo? Quem vai ter uma equipe que "veste a camisa" da empresa e gosta do local de trabalho?

sábado, 21 de agosto de 2010

Estratégias do medo

Propaganda política na rádio. Voz masculina forte e segura:
  • Educação é prioridade! Mas sem segurança nas ruas, seus filhos não chegam vivos na escola. Vote Coronel não-sei-quem. Serra presidente! Não-sei-quem Governador!
"Não chegam vivos na escola"! O que é isto?

2 comentários me vêm à cabeça, no meio de outros pensamentos muito menos caridosos...
  • Primeiro, gostaria de perceber o que passa pela cabeça das pessoas que pensaram este tipo de slogam? Além de ser uma clara ameaça - se não votarem em mim, os seus filhos vão morrer, será que acham que quem ouve o slogan sonha com carros blindados, uniformes e helicopteros etc, para se sentirem mais seguros? Se calhar é isso e eu é que estou completamente errado. Par mim, mais Polícia nas ruas nunca, mas NUNCA MESMO foi sinal de mais segurança! Isso chama-se lógica básica. Experimentem um pouco. Garanto que vão gostar.
  • E a outra coisa é a ignorância da coisa. Será que ninguém aprende com nada? Não viram como o partido republicano americanos foi EXPULSO do poder precisamente por ter infringido esta estratégia do medo em seus cidadãos? Bastava ligar a TV ou um computador para aprender um pouco.
Que coisa...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um Mundo de contradições

Este post vai ser atípico. É uma reação a notícias recentes do Mundo em que vivemos. Um Mundo para qualquer pessoa de boa vontade enlouquecer de vez...
 
A França, aquele país de onde veio a declaração universal dos direitos do homem, está a expulsar Ciganos pelo segundo dia consecutivo. Não importam as razões por trás de tal decisão. Se começarmos a tentar justificar tais atos, voltaremos rapidamente a períodos sombrios da humanidade, no século passado. E a hipocrisia a este nível me dá náuseas.
 
E eu (nós) por aqui, pedindo por mais coerência... assustador não é?
 
Mas é isso. É o Mundo onde vivemos. Enquanto lá fora o Mundo late palavras de ordem encharcadas de intolerância e ignorância, o meu filho de 9 anos me mostrou ontem o dever de casa de fluência dele.
 
O exercício era simples. Ele tinha que completar umas frases, com base em uma premissa fixada de antemão. A parte que ele completou está em verde (cor da esperança):
 
Se você tivesse um capacete que lhe desse poderes especiais, você transformaria:
  • uma pedra em um golfinho, porque eu adoro animais
  • uma árvore em um marciano, porque eu adoro Marte.
  • uma bicicleta em uma motocicleta, porque aí eu posso andar de moto
  • uma banheira em um sofá, porque ele é fofinho
  • uma cadeira em uma mesa, porque aí eu posso comer
  • um poste em um coração, porque aí eu posso amar.
Se isto for representativo da próxima geração então eu posso ficar em paz. Afinal há vida e esperança...
 
PS: Eu lhe perguntei porquê transformar um poste em coração. Ele me explicou que o coração ilumina as pessoas da mesma forma que o poste ilumina as ruas. E eu respirei fundo num esforço para engolir as lágrimas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A dificuldade de ser coerente!

Ou “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”!

Parece-me que hoje em dia podemos dizer com alguma certeza que alguns valores já são relativamente universais. (Quase) ninguém ousará enaltecer as virtudes de roubar, matar, mentir, agredir – verbalmente ou fisicamente, assediar, insultar, desviar fundos – públicos ou privados, fraudar, cometer nepotismo, etc. É de senso comum que esses defeitos humanos devem ser combatidos para o bem das sociedades civis. Mas como também sabemos que o bom senso é tudo menos comum, a busca pela coerência na nossa atuação parece-me ser uma boa ferramenta para nos tornarmos mais justos.

Eu tenho muita dificuldade em perceber porque as pessoas não são mais coerentes. Invés de nos posicionar como autênticos antros de virtudes – que certamente nunca seremos, porque não vivemos mais em consonância com o que realmente somos ou gostaríamos de ser? É tão mais simples e menos extenuante para a memória.

Tudo se resume a uma coisa relativamente simples: não posso cobrar algo que eu não pratico. Não posso pedir aos outros uma coisa que não sou capaz de fazer (atenção que estamos a falar de valores). É simples assim. Em caso nenhum posso/devo exigir de seja quem for que seja honesto, se eu mesmo não sou. Não posso pedir ao meu filho que não minta para mim, se eu minto para ele. Não posso pedir aos membros da minha equipe que me tratem com respeito e deferência se eu não mostro o mesmo para eles. Não posso pedir à minha esposa / namorada / companheira que me seja fiel, se eu não o sou. Não posso assinar pactos contra corrupção e ao mesmo tempo financiar secretamente partidos políticos. Não posso exigir que a minha empresa retire qualquer sistema de controle de presença se eu aproveito a ausência de controle para trabalhar menos. Não posso exigir a minha promoção por mérito/competência se eu mesmo, no meu papel de gerente, quando promovo alguém é porque é meu amigo ou tenho algum interesse. Etc, etc. Não faz sentido!

Coerência! É o simultaneamente o mais difícil e o mais fácil de fazer. Reparem que não se trata de sermos todos seres perfeitos, honestos, justos, cívicos, etc (embora seja um bom objetivo para se ter), mas sim de nos aceitarmos pelo que realmente somos e vivermos em conseqüência. Se não conseguimos deixar de procurar um “furo no sistema” para tirar proveito, então basta deixar de dizer que somos cívicos. As pessoas à nossa volta certamente agradecerão a honestidade.

Uma vez, um amigo meu, ateu, estava escandalizado pelo Papa João Paulo II não apregoar entre os crentes o uso do preservativo nos países africanos assolados com a AIDS. E eu lhe dizia que por mais que eu fosse agnóstico, a favor da despenalização do aborto, a favor das pesquisas em células-tronco, apesar disso eu entendia a posição do Papa. Ele estava a ser coerente com a posição dele – se não houver sexo antes do casamento, e só houver sexo dentro do casamento, a questão do preservativo não se põe. Posso discordar com a premissa, sobretudo nesse contexto, mas respeito muito a coerência do raciocínio!

Estou mais que convencido de que ser coerente e exigir coerência das pessoas que nos rodeiam – família, amigos, colegas de trabalho, políticos e governantes – é um dos caminhos para a construção de uma sociedade mais equitativa, ética, justa e onde faça sentido viver.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

E chegaram as eleições!

O Grupo PAR (onde trabalho) colocou uma comunicação sobre o voto consciente para todos os empregados. Isso gerou discussão (ainda bem) e eu me lembrei que já tinha falado sobre o assunto aqui. Mas a nossa conversa foi mais sobre as diferenças entre os sistemas políticos entre os continentes onde vivi.

Visto de fora, o brasileiro parece pensar que vive no país mais corrupto do mundo. Parece que os políticos daqui são os piores do mundo. O meu ponto de vista é um pouco diferente. Encontrei políticos corruptos em TODOS os países onde passei. Todos, nem absolutamente nenhuma exceção. A diferença estava essencialmente no nível de profissionalismo da corrupção. Quanto mais velha for a democracia, mais requintada é a corrupção. E faz sentido. Com a idade vamos ficando mais maduros e inteligentes, não é? O mesmo acontece com a democracia, suas qualidades e, obvia e infelizmente, seus defeitos.

Uma explicação simples é esta anedota que eu nunca esqueci:

  • Um ministro de um país A, uma democracia secular e com grande tradição política, recebeu em sua capital um ministro de um país B, recentemente saído da ditadura (uns 15 anos). Simpático, o ministro A convidou o outro a ir a casa. O ministro B foi e ficou espantado com a bela mansão num bairro chiquíssimo e com piscina. Com a informalidade e inocência dos recém-chegados, pôs-se a fazer perguntas:

    • Ministro B: Com um salário que não chega a cinco mil euros, como é que o meu amigo conseguiu tudo isto? Não me diga que era rico antes de ir para o Governo?

  • O ministro A disse que não, que antes não era rico. E para dar explicações, convidou o outro a ir até à janela.

    • Ministro A: Está a ver aquela auto-estrada?

    • Ministro B: Sim

    • Ministro A: Ela foi comprada por 100 milhões. Mas, na verdade, só custou 90 (piscando o olho)

  • Semanas depois, o ministro A foi de viagem a ao país B. O ministro B quis retribuir a simpatia e convidou-o a ir lá a casa. Era um palácio, com varandas viradas para o pôr-do-sol da praia, jardins japoneses e piscinas em cascata. O ministro A nem queria acreditar, gaguejou perguntas sobre como era possível um homem público ter uma mansão daquelas. O ministro B levou-o à janela.

    • Ministro B: Está a ver aquela auto-estrada?

    • Ministro A: Não. Onde??!

  • Ministro B: ... (piscando o olho)
É isso. Níveis diferentes, mas a essência é a mesma.
Isso nos levou a conversar sobre a questão do voto ser obrigatório ou não, qual a melhor solução. No fundo, o desafio é o do voto consciente. Eu penso que o voto deve ser obrigatório. Só que também reconheço a fragilidade do sistema perante aqueles que compram/vendem votos. O desafio é garantir que de fato a pessoa que vota no candidato o faz com conhecimento de causa, consciente da proposta que o candidato oferece. E fiquei a pensar se não poderíamos fazer um pequeno questionário que acompanharia o ato do voto propriamente dito. No momento de votar, o votante teria que responder a umas poucas perguntas sobre o posicionamento do candidato que ele apóia sobre diversos temas-chave (educação, saúde, religião, meio ambiente, etc...). Seriam perguntas do tipo “qual é a posição do candidato sobre a educação?

  • Opção A – a educação deve ser privatizada mas ficar sob o controle e avaliação do estado.

  • Opção B – a educação deve ser 100% pública.

  • Opção C – a educação universitária deve ser privatizada mas a educação básica se mantém sob a gestão do poder público.
Percebem a idéia, não é? Assim teríamos mais certeza que de fato as pessoas estão conscientes e conhecem o candidato. E mesmo que os candidatos venham a fornecer umas “colas” para o momento do voto (claro que iria acontecer!), só fato do votantes terem que decorar/saber essas coisas, já vai gerar conversa e discussão. Hoje, tenho quase a certeza que a maioria não tem essa noção.

Eu sei que pode parecer uma viagem, mas é um inicio de idéia. Alguma coisa que ajude a melhorar a participação dos cidadãos na vida pública, que diminua o fosso que cada vez mais separa a política do dia a dia das pessoas que ela é suposto servir...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Cada uma faz a sua parte!

Acabaram as férias. Voltamos para o olho do furacão! Vamos, coragem!

Acabou de ser lançada uma promoção num dos portais do Grupo onde trabalho chamada “Amigos do Mundo”. A mecânica de da participação promoção é bastante simples. Cada participante completa uma das três frases abaixo:

  • Não ser consumista é bom para mim porque...

  • Não jogar lixo na rua é bom para mim porque...

  • Fechar a torneira de água é bom para mim porque...
Depois, essas frases são votadas pelo público em geral, e as melhores ganharão um montão de prêmios. Ah, é importante saber que só podemos usar 160 caracteres para completar a frase. Não dá para escrever teses. É o novo mundo twitterizado. Habituem-se!

Eu participei, com este meu jeito sensível e carinhoso de ser, que tantos amigos me trouxe. A minha frase ficou assim:

  • Não jogar lixo na rua é bom para mim porque...mostra que não sou um animal, que os anos de educação (pais, sociedade...) afinal foram úteis e fizeram de mim um ser cívico, social e ético
A brincadeira me pareceu duplamente interessante. Primeiro porque o tema nos diz particularmente respeito, mas também porque a leitura das frases propostas me parece ser uma boa amostra do estado da psique do público em geral. Pareceu-me interessante ver o prisma adotado pela maioria dos participantes: precisamos fazer estas coisas para salvar o planeta, para cuidar do meio ambiente, para melhorar a qualidade da água, etc, etc! Longe de mim dizer que está errado, muito pelo contrário. Mas às vezes parece que “não “estamos” nesse tal planeta que queremos salvar. Como se fosse “ah, vamos tentar, se der, tudo bem... se não der, tudo bem também...”

Tentemos olhar para essas três perguntas sob o prisma antropologicamente e humanamente egoísta. Por que devemos fazer essas coisas, sem ser para o planeta? Porque, antes de tudo, é bom para nós, pessoas do tipo gente, como vocês e eu! Será que o instinto de sobrevivência e de auto-preservação das pessoas já está assim tão corrompido pela sociedade de consumo do século 21 (começou no século 19...), que algo tão transparentemente evidente não é visto? O ser bom para o planeta não é mais que um benefício colateral, por nós fazermos parte do dito cujo!

Duas histórias curtas para vocês:

  • Poupei cerca de R$ 850,00 em seis meses, graças a uma política de apagar/desligar tudo o que seja elétrico quando não está em uso. A minha fatura de eletricidade costumava ser de cerca de R$ 220,00 e hoje oscila entre R$ 70 e R$ 90 reais (dependendo da estação do ano). E estou a lutar para que a conta da água seja individualizada no meu prédio (quando passarem a sentir no bolso...).

  • Nos dois supermercados do meu bairro já me conhecem como “o gringo que não aceita sacolas”. E isso começou a gerar perguntas dos clientes, porque sou sempre abordado com humor sobre o assunto. E aí eu explico um pouco o porquê dessa atitude e vou conquistando, pouco a pouco, mais adeptos. Desde há cerca de seis meses reparei que agora um dos supermercados disponibiliza algumas caixas de cartão papelão (nas quais foram entregues os artigos que estão à venda no supermercado) para quem quiser usar. Três problemas resolvidos ao mesmo tempo: menos sacolas de plástico em circulação, menos lixo deitado fora pelo supermercado e mídia espontânea de clientes satisfeitos!
Paz!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

E se falássemos um pouco da Copa?

Pois é. Tudo tem a ver com RSE, sustentabilidade, um mundo melhor etc, etc. E a copa do mundo é um bom laboratório de relacionamentos. Vejam só. O lema das ultimas copas, salvo erro, desde 1998, tem sido a tolerância, a luta contra todas as formas de violência,racismo e exclusão, a paz entre os povos, etc, não é? A FIFA tem apregoado em todos os fóruns que a copa é precisamente um momento de união entre os povos. O spot publicitário com a voz do Bono resume perfeitamente a intenção.


A intenção é louvável. Tenho dúvidas quanto ao resultado atingido. O futebol tem esse dom de despertar paixões. E normalmente paixão e bom senso nunca andam de mãos dadas. Eu percebo pouco de futebol, é um fato. Mas a copa do mundo é um dos raros momentos em que me envolvo com o assunto. É difícil não se deixar contagiar pelo entusiasmo. E acho fantástico que de fato, de 4 em 4 anos, o mundo pára para ver os duelos entre as equipes. Como imaginam dispenso facilmente os nacionalismos exacerbados que normalmente surgem. Infelizmente faz parte do pacote.

Este ano a copa tem sido (para mim pelo menos) apaixonante. Mesmo com a saída dos times por quem eu torcia (Brasil, Portugal, qualquer time africano, Uruguai por ter ido tão longe...). Por todo o lado tenho ouvido que esta copa foi péssima porque os suspeitos de costume (supostamente os melhores times: Brasil, Itália, França, Inglaterra, Argentina, Alemanha...) não confirmaram que são... os suspeitos de costume. Ouvi até que mesmo que a Espanha e a Holanda tenham ganhado TODOS os jogos até agora, são times inferiores aos que perderam. Aliás, a frase correta parece ser “a Espanha e a Holanda não ganharam. Os outros é que perderam”. Que estranho, não? E eu que pensei que para chegar na final era preciso ganhar de todos os outros. Alguma coisa me escapou? Lembra-me um pouco a atitude desprezível de alguns pasquins portugueses (alguns até supostamente muito respeitáveis), que depois da Grécia ganhar o Euro2004 contra Portugal (e ganharam contra Portugal 2 vezes durante a competição, na entrada e na saída, seja dito “en passant”), diziam em letras garrafais “o triunfo do futebol parasita”. Que injustiça! Se querem discutir semântica (eles não ganharam, nós perdemos), não contem comigo. Eu só vejo que é uma imensa falta de respeito pelas equipes que estão na final (repito para os mais distraídos: ganharam todos os jogos até agora), pela torcida dessas mesmas equipes, e, em ultima análise vai totalmente contra os objetivos da competição. Aliás, não sei se foi a primeira ou mesmo a única equipe que fez isso numa copa, mas a Holanda tem feito um gesto que eu acho fantástico: eles jogam com uma camiseta que leva sempre 2 bandeiras: a deles e a do adversário. Isso sim é respeito!

Um amigo meu com quem jogo tênis regularmente me contou como ele prefere o tênis ao futebol. É importante saber que ele é fanático do Flamengo, é arbitro federado e jogador também. Ele me explicava como está desiludido pelo que manto de má fé que tomou conta do esporte que ele tanto gosta. Ele me contou sobre os jogadores que fingem as faltas, a violência em campo (verbal e física), a desonestidade – a bola não bateu em mim antes de sair – a falta de fair-play, etc. Em me dizia que no tênis é precisamente o oposto. Mesmo entre os 10 maiores jogadores do mundo existe tanto respeito que se o juiz dá uma bola fora erroneamente, o jogador que ganharia o ponto com esse erro devolve o ponto para o adversário. E o publico gosta, respeita e encoraja muito essa atitude. No futebol infelizmente parece que não é bem assim.


Conclusão: o barão Pierre de Coubertin, fundador dos jogos olímpicos modernos, dizia que o importante é participar, “o essencial da vida não é vencer, senão lutar bem”. Não há perdedores ou ganhadores. O importante é a união, o entendimento entre os povos, a integração de culturas, o respeito pelo adversário. E sustentabilidade tem a ver precisamente com isso. É juntar as pessoas.

Vamos Espanha! Vamos Holanda! Que vença a melhor equipe do mundo!!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O mundo está melhor ou pior? (2ª parte)

. O tema é grande demais para ficar num post só :D

Tenho pensado muito no assunto e, embora inicialmente fizesse claramente parte dos que acham que o nosso planeta só tem piorado, depois de pensar muito sobre o assunto confesso que já não sei bem.

É obvio que muitas coisas boas aconteceram na terra nos últimos séculos, abolição da escravatura, direito de voto para mulheres e negros, esperança de vida aumentou assim como o acesso a informação, o conhecimento sobre as coisas também. O Mundo se tornou mais pequeno com a revolução industrial e os transportes, várias doenças foram erradicadas, a maior parte dos regimes autocráticos desapareceu, a democracia chegou a muito mais lugares do que antes, a mortalidade infantil diminuiu, a liberdade de expressão e de escolha é fato consumado na maioria dos países, a tecnologia trouxe um nível de conforto nunca antes atingido assim como um uso cada vez mais eficiente da energia, estamos mais acessíveis graças ás comunicações globais, os carros se tornaram mais baratos e confortáveis, temos mais acesso às culturas do mundo inteiro, temos computadores etc, etc. É de senso comum que ninguém no seu perfeito juízo gostaria de ir viver na idade média, não é?

Por outro lado o ultimo século foi o mais violento da humanidade, a globalização acentuou a desigualdade social no mundo inteiro, a poluição e o consumo de antidepressivos ficaram fora de controle, o aquecimento global coloca em risco a nossa própria sustentabilidade, ironicamente perdemos muito no que tange ao direito à privacidade e liberdade de escolha (será que escolhemos mesmo?), a quantidade de informação disponível dificulta a educação e o aumento da sabedoria (dificuldade em separar o joio do trigo), quanto mais sabemos sobre as outras culturas mais nos tornamos egoístas e nos fechamos, temos dependências que antes não existiam (internet, celular são uns exemplos), os valores ficaram tão confusos que a crença de uns virou lei para outros, altruísmo é muitas vezes chamado comunismo e capitalismo foi trocado por protecionismo, e o dinheiro é visto como a causa e a solução para todos os males.

Depois desta reflexão, parece que a percepção de que o Mundo está melhor ou pior depende do estado de espírito de cada um. Ou seja, não é mais que isso mesmo, uma percepção. E vejo quatro grupos distintos – com alguns cruzamentos:
  • Aqueles que acham que o Mundo está cada vez melhor vão sempre ver mais coisas positivas do que negativas
    • Grupo 1: aqueles que continuam trabalhando para que ele continue se desenvolvendo nesse sentido
    • Grupo 2: aqueles que acham que eles pouco têm a ver com isso e deixam-se levar pela onda. As coisas vão melhorar sempre de qualquer jeito.
  • Aqueles que acham que o Mundo está cada vez pior vão sempre ver mais coisas negativas do que positivas
    • Grupo 3: aqueles que querem lutar para reverter a situação
    • Grupo 4: aqueles que acham que não podem fazer nada, tudo irá para o buraco de qualquer forma
Eu sinto que faço parte do grupo 3, definitivamente. E, se dependesse de mim, mandava o pessoal dos grupos 2 e 4 explorar uma nebulosa qualquer nos confins do universo!
 
Fiz uma pequena enquete aqui no trabalho e os pessimistas ganharam com grande vantagem. O meu tio já dizia que um pessimista é um otimista prevenido. Subscrevo!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O mundo está melhor ou pior?

Estive num curso de Governança Corporativa e no ultimo módulo que tratava de Ética (quanto mais sei sobre ética, mais gosto!), o professor perguntou para a turma se achávamos que o Mundo está a ficar melhor ou pior. Eu fiz - obviamente - parte da minoria que achou que o Mundo estava cada vez pior.

E vocês? O que acham? Bora debater o assunto? Ah, antes de emitir opinião, percam + 2 horas da vossa vida e vejam o filme "The Age of Stupid" de Franny Armstrong e com Pete Postlethwaite. Nada que a gente não saiba, mas extremamente educativo.
Paz

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A arrogância dos poderosos...

Desde que cheguei ao Brasil quantas vezes eu ouvi pessoas me dizerem “veio da Europa para o Brasil?? Porquê?? Como se eu fosse o ultimo dos lunáticos na terra. Eduardo Castro, um amigo meu (brasileiro), recém imigrado para Moçambique, comentou essa baixa auto-estima do brasileiro no seu blog. Não vou me estender sobre essa tese com a qual concordo em gênero e grau. Quem é brasileiro não se dá conta como muitas vezes descreve o seu país como se fosse o pior lugar do mundo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Felizmente, como disse o Eduardo, essa visão está a mudar muito. O desenvolvimento do Brasil em todos os aspectos tem mudado a visão do estrangeiro sobre o país, assim como a auto-estima do cidadão nacional. E ainda bem. Já era mais que tempo. O Brasil tem se tornado na nova Meca. Os olhos do mundo estão virados para aqui há quase uma década. E isso pode ser positivo ou negativo, dependendo de como for encarado.

A minha esperança é que os brasileiros não se tornem arrogantes como todos os poderosos uma vez se tornaram. Há séculos atrás Portugal e Espanha dividiram o mundo e "descobriram" as Américas, a Inglaterra "criou" o novo mundo, a China construiu muralhas, os Estados Unidos foram para o Vietnam e Iraque. Enfim. E sabemos como a história é sempre escrita pelos vencedores e poderosos. O que muitos não parecem sequer imaginar é como se sentem os vencidos e os fracos. Menos o Brasil.

O Brasil sabe o que é ser um pais do 3º ou mesmo 4º mundo. E agora que, mais que nunca, tem todas as portas abertas para sair desse 3º ou 4º mundo, espero singelamente 2 ou 3 coisinhas:
  • Que consiga levar a maioria dos brasileiros nessa evolução: melhor nivel de vida para a maioria e não para a minoria que, afinal de contas, sempre teve a dita qualidade de vida
  • Que não esqueça a sua origem e não se deixe contagiar precisamente pela arrogância dos acima citados vencedores e poderosos.
  • Que assuma o seu papel de lider poderoso com toda a responsabilidade característica desse papel. Como disse a Tia May no Homem Aranha 1, "com grande poder vêm grande responsabilidade"! É como me disseram uma vez, não dá para ser uma cidade, uma empresa, um país justo e sustentável, num Mundo que não o é.
E também é só uma questão de bom senso. A história mostra claramente que o mundo evolui por ciclos. Todos esses países foram odiados pelo resto do mundo e sofreram fases intensas de declínio civilizacional. Como dizem os americanos "what goes around, comes around" ou "quanto mais alto o coqueiro, maior é o tombo" ;)

Como eu me sentiria/sinto feliz e orgulhoso por presenciar/participar/contribuir para o país que pode liderar a maior revolução civilizacional dos ultimos milênios...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A ética dos banheiros dos aviões

Aceito o desafio que o blogueiro de Para um mundo melhor fez aqui... e faço aqui minha sugestão: vamos aplicar em nossas vidas a ética dos banheiros de aviões.

Explico: nestes locais, perto da pia, há sempre um aviso que diz mais ou menos assim "como gentileza com o próximo passageiro, por favor deixe a pia seca. Você pode usar o papel que enxugou suas mãos para isso".
É simples. Enxuga-se a mão e antes de colocar o papel toalha no lixo, dá uma passadinha na pia que você mesmo molhou. Pronto, a pia está limpa, você não gastou mais do que 10 segundos e o próximo passageiro terá uma impressão agradável ao entrar.

O problema é que as pessoas sequer têm aceito o desafio no banheiro do avião, onde há um lembrete. Imagine fora dele. Quando eu estava escrevendo esse texto, fizeram a cômica ponderação de que talvez alguns obedeçam nos aviões e não em terra firme porque um passageiro nervoso por encontrar o banheiro sujo é menos perigoso quando não está no ar.

Certa vez uma colega reclamou do banheiro no escritório em que trabalhávamos, que estava sempe uma bagunça. Eu tentei usar com ela a lógica do banheiro do avião e sugeri: se cada um deixar como encontra, resolve-se o problema. E ela: acontece que está sempre sujo, vai ficar cada vez mais sujo.

Não, não iria. Pelo simples fato de que havia uma pessoa encarregada da limpeza. Logo cedo, antes de todos chegarem, ela deixava os banheiros limpos. E depois repetia isso algumas vezes ao longo do dia. Mas a primeira pessoa que usava já não deixava como encontrou e a segunda piorava a situação e quando a primeira pessoa iria usar novamente, depois de cinco terem passado por lá, estava insuportável.

O fato é que as pessoas não pensam como pequenas atitudes podem se reverter em seu próprio favor e em um ambiente mais agradável, seja em casa, no trabalho ou no avião. Quando alguém sai de um emprego, por exemplo, seja por vontade própria ou não, o mais correto seria deixar as gavetas e a mesa de trabalho vazias. Devolve-se ao almoxarifado o que for insumo de escritório, joga-se no lixo o que não vai ser entregue aos demais colegas e leva-se para casa o que for pessoal. Mas quantas pessoas não deixam "heranças para ninguém" em suas ex-gavetas de escritório? Então, o novo empregado que ocupa aquela mesa (pode até não ser o mesmo cargo), acaba deixando os itens lá por meses, na dúvida sobre se a pessoa esqueceu e vai voltar para pegar ou se aquilo ainda vai ter alguma utilidade para a empresa.

Que tal se encarássemos a Terra como sendo uma aeronave? Afinal, estamos todos nessa mesma viagem, não? Então, por que não ser gentil com o próximo e deixar um ambiente agradável por onde passar? Com certeza, se todos fizerem isso, quando você voltar lá, vai estar agradável ainda.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Avaliação de equipe, porquê?

Esta semana fiz a avaliação da minha equipe. Na Gerência de Responsabilidade Social do Grupo PAR, trabalho com mais duas analistas de RSE. Nenhum de nós é especializado na área (quem o é?), mas por afinidade com o assunto acabamos por abraçar o desafio de mudar a cultura empresarial do Grupo onde trabalhamos.

Nas minhas pesquisas sobre como melhorar a gestão de pessoas li que um bom método/sistema é conseguir dar 1 hora de atenção/avaliação/conversa por trimestre, com cada membro de equipe. A nossa segunda conversa do ano aconteceu na sexta-feira passada (dia 11/06). Independentemente do teor da conversa, algumas coisas me pareceram interessantes. Vejam só:

  • Muito embora o lado burocrático da coisa seja sempre pesado – nem elas nem eu temos particularmente vontade de encarar esse momento – o resultado é bastante positivo. O que achávamos que ia ser uma eternidade acaba por passar depressa demais.

  • A avaliação ainda carrega uma carga negativa e, em alguns casos, ainda é assimilado a um possível despedimento.

  • Uma conversa informal tem um efeito motivador impressionante. Pena que a maioria dos “chefes” não vejam isso e se deixem ficar pelos “parabéns pelo trabalho este ano, gostei de trabalhar com você”, dado rapidamente no inicio da festa de fim de ano da empresa, entre 2 copos de whisky 12 anos.

  • É um momento que permite ter uma perspectiva sobre o feito e o a fazer. Muitas vezes, na famosa correria do dia a dia, não pontuamos as vitórias, não destacamos as conquistas profissionais. Dei-me conta que é um momento que permite fazer esse levantamento e melhorar a nossa autoestima.

  • Ainda é difícil acontecer a avaliação dos “chefes” pelos súbditos. A cultura da hierarquia ainda dificulta muito esse intercambio. (quase) nenhum empregado consegue criticar construtivamente o seu superior hierárquico olhos nos olhos.

  • Infelizmente, ainda não temos esta sistemática vinculada a um plano de carreira, evolução de responsabilidades e de salário, porque na maior parte das vezes a empresa não tem espaço para crescimento de todos os seus profissionais ao mesmo tempo.

  • Desta vez também conseguimos estabelecer a dinâmica da criação de pequeno plano de desenvolvimento pessoal e profissional para o trimestre seguinte. Isso ajuda muito a clarificar as forças e fraquezas, tanto individuais como da equipe, e a ter uma orientação clara quanto aos passos a tomar.

  • Curiosamente, os colegas que não são avaliados tão sistematicamente sentiram a necessidade de cobrar esse retorno dos seus devidos gerentes ;)
Por ultimo, a coisa mais importante de todas é que este momento, quando bem isolado da confusão do dia a dia, e plenamente dedicado ao profissional, é quase como uma sessão de terapia onde o profissional se sente genuinamente escutado. E isso é rico demais para a motivação e custa muito pouco!

Sem dúvida aconselho, repetirei, e espero conseguir convencer os demais gerentes a fazer o mesmo!