quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sustentabilidade, relatórios e os riscos de greenwashing

Desde que comecei neste caminho da RSE e Sustentabilidade, tenho tido freqüentemente essa dúvida. Basta olhar ao nosso redor para ver que Sustentabilidade é a palavra do dia, não é? Ela é usada a torto e a direito, a publicidade das empresas mais diversas, de bancos a tabaqueiras (acreditem. Tabaco agora também é sustentável!). Se acreditássemos em tudo que por aí se diz, não teríamos muito com que nos preocupar, não é?

Pois eu preocupo-me com esse fenômeno de moda. Até que ponto as intenções são genuínas? Até que pontos as empresas querem realmente tentar mudar progressivamente a forma como são geridas, e, sobretudo, quais são os resultados que devem ser considerados para ser considerada uma “grande empresa” ou uma “empresa sustentável”? Como fugir do greenwashing (em português de gente, “tapar o sol com a peneira” ou “operação de cosmética”).

Em vários encontros dentro da rede de profissionais que trabalham com este tema, direta ou indiretamente, damo-nos conta do quanto as empresas têm progressivamente transformado os seus relatórios anuais em relatórios de sustentabilidade, integrando outros conceitos que não só os financeiros e mercadológicos. Ao mesmo tempo em que isso acontece, aparecem empresas de publicidade ou consultoria unicamente especializadas em assessorar as empresas a entregar um bom relatório de sustentabilidade anual. Ou seja, esses relatórios – sejam GRI, sejam baseados nos Indicadores Ethos, sejam iBase – tendem a se transformar em produto final, invés de serem meras ferramentas da mudança. E como produto final, eles criaram o seu próprio mercado, entre clientes – grandes empresas que não querem perder o bonde, fornecedores – essencialmente agências de publicidade que vão se especializando, consultorias – que, hipoteticamente ajudam as empresas a mudar sua cultura, e empresas de auditoria – que ganham assim mais um segmento de mercado.

Mas atenção. Não sou pessimista ao ponto de achar que os relatórios são inúteis, longe disso. Eu sei por fato que muitas empresas estão de fato a rever completamente a sua cadeia produtiva de forma a poder melhor avaliar os impactos – positivos e negativos – sobre todas as partes interessadas, e não unicamente clientes e consumidores. E também sei por experiência, que o simples fato de tentar fazer um relatório de sustentabilidade minimamente apresentável, ou de preencher os Indicadores Ethos de RSE, já provoca uma discussão interessante e difícil dentro das empresas. E a discussão é o primeiro passo para o questionamento, o que por sua vez provoca a mudança.

Neste artigo, apenas queria mostrar como me assusto com a direção tomada e questiono a efetividade do modelo. Mas também não encontrei nenhuma outra opção até agora. Só espero que a vinda da ISO26000 (ISO de RSE) não venha complicar mais as regras do jogo.

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