segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Duas histórias parecidas, duas decisões por caminhos diferentes

Dizem que coincidência não existe. Mas por uma dessas coisas que não existem, tive a oportunidade, no espaço de 24 horas, de conhecer duas pessoas que estão a lidar com o mesmo problema e encontraram soluções opostas para resolvê-lo.

  • Situação A: Fernanda trabalha em uma empresa de limpeza de escritórios. Há um grande índice de atrasos e faltas na empresa. Ela vai resolver a questão sem mais conversas com o pessoal, descontando do salário os minutos não trabalhados, ainda que seus empregados sempre tenham uma razão para explicar tais ausências.

  • Situação B: João trabalha em uma instituição de educação técnica profissionalizante. Há um grande índice de atrasos e faltas na empresa. Ele vai resolver a questão implantando o café da manhã. Uma simples oferta de um copo de café com leite e um pão com manteiga, para quem chegar até os cinco minutos do horário de entrada. Depois disso, acabou café, não importa que explicações tragam seus empregados para os atrasos.
É difícil perceber quem vai ter melhores resultados na produtividade dos empregados? Quem vai ter o pessoal chegando 15 minutos antes do horário? Quem vai ser respeitado ou quem vai ter as ordens acatadas apenas por medo? Quem vai ter uma equipe que "veste a camisa" da empresa e gosta do local de trabalho?

sábado, 21 de agosto de 2010

Estratégias do medo

Propaganda política na rádio. Voz masculina forte e segura:
  • Educação é prioridade! Mas sem segurança nas ruas, seus filhos não chegam vivos na escola. Vote Coronel não-sei-quem. Serra presidente! Não-sei-quem Governador!
"Não chegam vivos na escola"! O que é isto?

2 comentários me vêm à cabeça, no meio de outros pensamentos muito menos caridosos...
  • Primeiro, gostaria de perceber o que passa pela cabeça das pessoas que pensaram este tipo de slogam? Além de ser uma clara ameaça - se não votarem em mim, os seus filhos vão morrer, será que acham que quem ouve o slogan sonha com carros blindados, uniformes e helicopteros etc, para se sentirem mais seguros? Se calhar é isso e eu é que estou completamente errado. Par mim, mais Polícia nas ruas nunca, mas NUNCA MESMO foi sinal de mais segurança! Isso chama-se lógica básica. Experimentem um pouco. Garanto que vão gostar.
  • E a outra coisa é a ignorância da coisa. Será que ninguém aprende com nada? Não viram como o partido republicano americanos foi EXPULSO do poder precisamente por ter infringido esta estratégia do medo em seus cidadãos? Bastava ligar a TV ou um computador para aprender um pouco.
Que coisa...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um Mundo de contradições

Este post vai ser atípico. É uma reação a notícias recentes do Mundo em que vivemos. Um Mundo para qualquer pessoa de boa vontade enlouquecer de vez...
 
A França, aquele país de onde veio a declaração universal dos direitos do homem, está a expulsar Ciganos pelo segundo dia consecutivo. Não importam as razões por trás de tal decisão. Se começarmos a tentar justificar tais atos, voltaremos rapidamente a períodos sombrios da humanidade, no século passado. E a hipocrisia a este nível me dá náuseas.
 
E eu (nós) por aqui, pedindo por mais coerência... assustador não é?
 
Mas é isso. É o Mundo onde vivemos. Enquanto lá fora o Mundo late palavras de ordem encharcadas de intolerância e ignorância, o meu filho de 9 anos me mostrou ontem o dever de casa de fluência dele.
 
O exercício era simples. Ele tinha que completar umas frases, com base em uma premissa fixada de antemão. A parte que ele completou está em verde (cor da esperança):
 
Se você tivesse um capacete que lhe desse poderes especiais, você transformaria:
  • uma pedra em um golfinho, porque eu adoro animais
  • uma árvore em um marciano, porque eu adoro Marte.
  • uma bicicleta em uma motocicleta, porque aí eu posso andar de moto
  • uma banheira em um sofá, porque ele é fofinho
  • uma cadeira em uma mesa, porque aí eu posso comer
  • um poste em um coração, porque aí eu posso amar.
Se isto for representativo da próxima geração então eu posso ficar em paz. Afinal há vida e esperança...
 
PS: Eu lhe perguntei porquê transformar um poste em coração. Ele me explicou que o coração ilumina as pessoas da mesma forma que o poste ilumina as ruas. E eu respirei fundo num esforço para engolir as lágrimas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A dificuldade de ser coerente!

Ou “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”!

Parece-me que hoje em dia podemos dizer com alguma certeza que alguns valores já são relativamente universais. (Quase) ninguém ousará enaltecer as virtudes de roubar, matar, mentir, agredir – verbalmente ou fisicamente, assediar, insultar, desviar fundos – públicos ou privados, fraudar, cometer nepotismo, etc. É de senso comum que esses defeitos humanos devem ser combatidos para o bem das sociedades civis. Mas como também sabemos que o bom senso é tudo menos comum, a busca pela coerência na nossa atuação parece-me ser uma boa ferramenta para nos tornarmos mais justos.

Eu tenho muita dificuldade em perceber porque as pessoas não são mais coerentes. Invés de nos posicionar como autênticos antros de virtudes – que certamente nunca seremos, porque não vivemos mais em consonância com o que realmente somos ou gostaríamos de ser? É tão mais simples e menos extenuante para a memória.

Tudo se resume a uma coisa relativamente simples: não posso cobrar algo que eu não pratico. Não posso pedir aos outros uma coisa que não sou capaz de fazer (atenção que estamos a falar de valores). É simples assim. Em caso nenhum posso/devo exigir de seja quem for que seja honesto, se eu mesmo não sou. Não posso pedir ao meu filho que não minta para mim, se eu minto para ele. Não posso pedir aos membros da minha equipe que me tratem com respeito e deferência se eu não mostro o mesmo para eles. Não posso pedir à minha esposa / namorada / companheira que me seja fiel, se eu não o sou. Não posso assinar pactos contra corrupção e ao mesmo tempo financiar secretamente partidos políticos. Não posso exigir que a minha empresa retire qualquer sistema de controle de presença se eu aproveito a ausência de controle para trabalhar menos. Não posso exigir a minha promoção por mérito/competência se eu mesmo, no meu papel de gerente, quando promovo alguém é porque é meu amigo ou tenho algum interesse. Etc, etc. Não faz sentido!

Coerência! É o simultaneamente o mais difícil e o mais fácil de fazer. Reparem que não se trata de sermos todos seres perfeitos, honestos, justos, cívicos, etc (embora seja um bom objetivo para se ter), mas sim de nos aceitarmos pelo que realmente somos e vivermos em conseqüência. Se não conseguimos deixar de procurar um “furo no sistema” para tirar proveito, então basta deixar de dizer que somos cívicos. As pessoas à nossa volta certamente agradecerão a honestidade.

Uma vez, um amigo meu, ateu, estava escandalizado pelo Papa João Paulo II não apregoar entre os crentes o uso do preservativo nos países africanos assolados com a AIDS. E eu lhe dizia que por mais que eu fosse agnóstico, a favor da despenalização do aborto, a favor das pesquisas em células-tronco, apesar disso eu entendia a posição do Papa. Ele estava a ser coerente com a posição dele – se não houver sexo antes do casamento, e só houver sexo dentro do casamento, a questão do preservativo não se põe. Posso discordar com a premissa, sobretudo nesse contexto, mas respeito muito a coerência do raciocínio!

Estou mais que convencido de que ser coerente e exigir coerência das pessoas que nos rodeiam – família, amigos, colegas de trabalho, políticos e governantes – é um dos caminhos para a construção de uma sociedade mais equitativa, ética, justa e onde faça sentido viver.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

E chegaram as eleições!

O Grupo PAR (onde trabalho) colocou uma comunicação sobre o voto consciente para todos os empregados. Isso gerou discussão (ainda bem) e eu me lembrei que já tinha falado sobre o assunto aqui. Mas a nossa conversa foi mais sobre as diferenças entre os sistemas políticos entre os continentes onde vivi.

Visto de fora, o brasileiro parece pensar que vive no país mais corrupto do mundo. Parece que os políticos daqui são os piores do mundo. O meu ponto de vista é um pouco diferente. Encontrei políticos corruptos em TODOS os países onde passei. Todos, nem absolutamente nenhuma exceção. A diferença estava essencialmente no nível de profissionalismo da corrupção. Quanto mais velha for a democracia, mais requintada é a corrupção. E faz sentido. Com a idade vamos ficando mais maduros e inteligentes, não é? O mesmo acontece com a democracia, suas qualidades e, obvia e infelizmente, seus defeitos.

Uma explicação simples é esta anedota que eu nunca esqueci:

  • Um ministro de um país A, uma democracia secular e com grande tradição política, recebeu em sua capital um ministro de um país B, recentemente saído da ditadura (uns 15 anos). Simpático, o ministro A convidou o outro a ir a casa. O ministro B foi e ficou espantado com a bela mansão num bairro chiquíssimo e com piscina. Com a informalidade e inocência dos recém-chegados, pôs-se a fazer perguntas:

    • Ministro B: Com um salário que não chega a cinco mil euros, como é que o meu amigo conseguiu tudo isto? Não me diga que era rico antes de ir para o Governo?

  • O ministro A disse que não, que antes não era rico. E para dar explicações, convidou o outro a ir até à janela.

    • Ministro A: Está a ver aquela auto-estrada?

    • Ministro B: Sim

    • Ministro A: Ela foi comprada por 100 milhões. Mas, na verdade, só custou 90 (piscando o olho)

  • Semanas depois, o ministro A foi de viagem a ao país B. O ministro B quis retribuir a simpatia e convidou-o a ir lá a casa. Era um palácio, com varandas viradas para o pôr-do-sol da praia, jardins japoneses e piscinas em cascata. O ministro A nem queria acreditar, gaguejou perguntas sobre como era possível um homem público ter uma mansão daquelas. O ministro B levou-o à janela.

    • Ministro B: Está a ver aquela auto-estrada?

    • Ministro A: Não. Onde??!

  • Ministro B: ... (piscando o olho)
É isso. Níveis diferentes, mas a essência é a mesma.
Isso nos levou a conversar sobre a questão do voto ser obrigatório ou não, qual a melhor solução. No fundo, o desafio é o do voto consciente. Eu penso que o voto deve ser obrigatório. Só que também reconheço a fragilidade do sistema perante aqueles que compram/vendem votos. O desafio é garantir que de fato a pessoa que vota no candidato o faz com conhecimento de causa, consciente da proposta que o candidato oferece. E fiquei a pensar se não poderíamos fazer um pequeno questionário que acompanharia o ato do voto propriamente dito. No momento de votar, o votante teria que responder a umas poucas perguntas sobre o posicionamento do candidato que ele apóia sobre diversos temas-chave (educação, saúde, religião, meio ambiente, etc...). Seriam perguntas do tipo “qual é a posição do candidato sobre a educação?

  • Opção A – a educação deve ser privatizada mas ficar sob o controle e avaliação do estado.

  • Opção B – a educação deve ser 100% pública.

  • Opção C – a educação universitária deve ser privatizada mas a educação básica se mantém sob a gestão do poder público.
Percebem a idéia, não é? Assim teríamos mais certeza que de fato as pessoas estão conscientes e conhecem o candidato. E mesmo que os candidatos venham a fornecer umas “colas” para o momento do voto (claro que iria acontecer!), só fato do votantes terem que decorar/saber essas coisas, já vai gerar conversa e discussão. Hoje, tenho quase a certeza que a maioria não tem essa noção.

Eu sei que pode parecer uma viagem, mas é um inicio de idéia. Alguma coisa que ajude a melhorar a participação dos cidadãos na vida pública, que diminua o fosso que cada vez mais separa a política do dia a dia das pessoas que ela é suposto servir...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Cada uma faz a sua parte!

Acabaram as férias. Voltamos para o olho do furacão! Vamos, coragem!

Acabou de ser lançada uma promoção num dos portais do Grupo onde trabalho chamada “Amigos do Mundo”. A mecânica de da participação promoção é bastante simples. Cada participante completa uma das três frases abaixo:

  • Não ser consumista é bom para mim porque...

  • Não jogar lixo na rua é bom para mim porque...

  • Fechar a torneira de água é bom para mim porque...
Depois, essas frases são votadas pelo público em geral, e as melhores ganharão um montão de prêmios. Ah, é importante saber que só podemos usar 160 caracteres para completar a frase. Não dá para escrever teses. É o novo mundo twitterizado. Habituem-se!

Eu participei, com este meu jeito sensível e carinhoso de ser, que tantos amigos me trouxe. A minha frase ficou assim:

  • Não jogar lixo na rua é bom para mim porque...mostra que não sou um animal, que os anos de educação (pais, sociedade...) afinal foram úteis e fizeram de mim um ser cívico, social e ético
A brincadeira me pareceu duplamente interessante. Primeiro porque o tema nos diz particularmente respeito, mas também porque a leitura das frases propostas me parece ser uma boa amostra do estado da psique do público em geral. Pareceu-me interessante ver o prisma adotado pela maioria dos participantes: precisamos fazer estas coisas para salvar o planeta, para cuidar do meio ambiente, para melhorar a qualidade da água, etc, etc! Longe de mim dizer que está errado, muito pelo contrário. Mas às vezes parece que “não “estamos” nesse tal planeta que queremos salvar. Como se fosse “ah, vamos tentar, se der, tudo bem... se não der, tudo bem também...”

Tentemos olhar para essas três perguntas sob o prisma antropologicamente e humanamente egoísta. Por que devemos fazer essas coisas, sem ser para o planeta? Porque, antes de tudo, é bom para nós, pessoas do tipo gente, como vocês e eu! Será que o instinto de sobrevivência e de auto-preservação das pessoas já está assim tão corrompido pela sociedade de consumo do século 21 (começou no século 19...), que algo tão transparentemente evidente não é visto? O ser bom para o planeta não é mais que um benefício colateral, por nós fazermos parte do dito cujo!

Duas histórias curtas para vocês:

  • Poupei cerca de R$ 850,00 em seis meses, graças a uma política de apagar/desligar tudo o que seja elétrico quando não está em uso. A minha fatura de eletricidade costumava ser de cerca de R$ 220,00 e hoje oscila entre R$ 70 e R$ 90 reais (dependendo da estação do ano). E estou a lutar para que a conta da água seja individualizada no meu prédio (quando passarem a sentir no bolso...).

  • Nos dois supermercados do meu bairro já me conhecem como “o gringo que não aceita sacolas”. E isso começou a gerar perguntas dos clientes, porque sou sempre abordado com humor sobre o assunto. E aí eu explico um pouco o porquê dessa atitude e vou conquistando, pouco a pouco, mais adeptos. Desde há cerca de seis meses reparei que agora um dos supermercados disponibiliza algumas caixas de cartão papelão (nas quais foram entregues os artigos que estão à venda no supermercado) para quem quiser usar. Três problemas resolvidos ao mesmo tempo: menos sacolas de plástico em circulação, menos lixo deitado fora pelo supermercado e mídia espontânea de clientes satisfeitos!
Paz!