segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O fracasso de Davos

Acabei de ler esta entrevista do Oded Grajew – um senhor que eu não conhecia até a conferência internacional do Ethos 2008. Eu sei que pode parecer um sacrilégio, mas a verdade é que isso me permitiu ouvir e embeber-me do que ele tem a dizer sem o filtro e a expectativa criada pelas recomendações de terceiros. Ouvi o Oded na conferencia, livre de qualquer preconceito do personagem. E adorei o que ouvi.

Nesta entrevista ele simplesmente demonstra como falhou o modelo preconizado pelo fórum econômico mundial na década passada. Os lideres vilipendiados de há dez anos são os heróis de hoje, sobretudo porque o tempo mostrou a fragilidade das teorias dos heróis de então.


E o fiasco é duplo, a meu ver. O primeiro tem precisamente a ver com o modelo “lucro a qualquer custo” que sempre soubemos insustentável e criador de desigualdade. Sendo oriundo de um país do chamado terceiro mundo (ou hoje talvez até seja quarto ou quinto mundo...) vivi na pele as diversas tentativas de colaboração entre países subdesenvolvidos e países desenvolvidos. E sempre me pareceu estranho como a situação do meu país só piorava no meio dessa “colaboração” (mais um uso errado da palavra colaborar).

O segundo fiasco tem a ver com os próprios objetivos do fórum econômico. Pesquisando um pouco da sua história, aprendi que o fórum foi fundado por Klaus M. Schwab, então Professor de política de empresarial na Universidade de Genebra, com o objetivo de juntar os CEOs europeus à abordagem stakeholder (em português – parte interessada) da gestão; uma forma de gerir empresas que levasse em consideração todas as partes interessadas: não apenas os acionistas e os clientes e consumidores, mas também os empregados, as comunidades onde a empresa está situada, os governos e a sociedade civil em geral. Pois é. Era essa a utopia que em menos de 10 anos se transformou no maior fórum de defesa da globalização e dos bem-feitos da desregulamentação do mercado. Na altura se acreditava – como ainda alguns acreditam hoje – que o mercado também regularia e reduziria as desigualdades sociais.

Lembrei-me de um documentário sobre o Niemayer e a tristeza com que ele falava da utopia de Brasília: “era para ser uma cidade para o povo e acabou sendo habitada pela elite rica do país...”

Foi mais ou menos o que aconteceu em Davos... só que numa escala global...

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