quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Conflito de gerações...

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
- De fato, não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu:
- Esse é exatamente o nosso problema hoje em dia, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com nosso meio ambiente.

- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisávamos ir a dois quarteirões de distância.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas? a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; e que depois como será descartado?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível, senhor caixa, que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não queira abrir mão de nada e não pense em viver um pouco como na minha época?

Aqui entre nós, eu li o texto todo com atenção e sorri tristemente. Sim triste por várias razões, mas essencialmente porque achei o texto, pedante, hipócrita e desnecessário.

Porquê pedante?

Porque claramente ele tenta mostrar o quanto aquela época era melhor que a atual, aquela geração mais consciente. Esse saudosismo sempre me incomodou porque ele é normalmente oriundo de uma visão estreita da realidade daquela época. Talvez quem escreveu também queira voltar ao tempo das ditaduras também? Ou ao tempo da primeira revolução industrial? É interessante como somos egocêntricos o suficiente para achar sempre que “no nosso tempo é que era bom”. Não deixa de ser engraçado pensar que provavelmente o escritor do texto deve ter pensado da geração anterior o mesmo que eu penso da dele ;)

Porque hipócrita?

Porque tudo aquilo que ele cita como sendo o supra-sumo do consumo consciente, era na época considerado um atraso de vida. Porque surgiram as fraldas e garrafas descartáveis? Porque as pessoas estavam cansadas de lavar as fraldas e de levar as garrafas de vidro de volta para a loja. Caminhavam até ao comércio? Os primeiros serviços de entrega surgiram nessa época. Só tinham uma TV em casa? Perguntei a todas as pessoas que me disseram isso porque só tinham uma e a maioria me respondeu que a TV era uma tecnologia nova e cara. Ou seja, se fosse barato como é hoje, provavelmente teriam uma em cada cômodo. Na cozinha batiam tudo à mão? Mesmo as pessoas que tinham máquinas? Tenho sérias dúvidas.

Eu poderia continuar a desmontar o raciocínio ponto por ponto, mas tudo converge para uma única conclusão: o consumismo “inconsciente” começou precisamente nessa geração fabulosa do pós-guerra. Se as coisas eram assim tão fantásticas, porque se inventaram meios de melhorar o conforto das famílias? Entendem onde quero chegar? Faz tudo parte de uma evolução. O erro foi de não pensar devidamente nas conseqüências. Mas ninguém com juízo vai negar a evolução que aconteceu nos últimos 50 anos.

Porque desnecessária?

Porque neste momento da nossa história é absolutamente ridículo tentar descobrir e castigar os culpados pela situação atual. Se todas as pessoas, de todas as gerações, parassem de apontar o dedo e gastassem mais energia tentando encontrar uma solução, provavelmente conseguiríamos juntos reverter o curso das coisas. Gastar mais tempo pensando em como fazer daqui em diante do que procurando por bodes expiatórios ou fantasmas do passado.

É só isso. Apenas uma opinião.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O trabalho remoto e a terceirização

Há uns dias atrás assisti a um encontro interessante que acontece em Brasília, a cada última segunda-feira do mês, num teatro do Brasília Shopping. É o Osso Buco: cinco ou seis apresentações sobre diversos assuntos, em sete minutos ou menos. Uma dessas apresentações foi sobre as vantagens do teletrabalho ou trabalho remoto.

Quando uns amigos e eu montamos uma empresa há uns anos atrás, usamos o teletrabalho como base de arranque, já que não havia faturamento para pagar uma estrutura de escritório. Embora para mim a experiência tenha sido péssima, eu entendo que seja uma solução muito viável para pessoas mais organizadas, focadas e disciplinadas.

Mas a abordagem que eu gostaria de dar ao tema é outra. O palestrante levantou todos os pontos positivos e negativos do trabalho remoto.

Alguns dos pontos positivos:
  • Independência e autonomia
  • Redução de custos de transporte, estacionamento e alimentação
  • Menos stress e pressão
  • Poder trabalhar sem interrupções ou controlar o seu ritmo
Alguns pontos negativos:
  • Nenhuma ou pouca socialização
  • Isolamento do mercado do trabalho e possível redução de oportunidades
  • Difícil separação entre trabalho e vida pessoal
  • Necessidade de MUITA disciplina para não se deixar enrolar pela liberdade de atuação
Eu digo que ele levantou quase todos. Eu perguntei para ele qual era o vínculo contratual entre o profissional e a empresa que o “contrata”. Coloco as aspas, pois na maioria das vezes não existe absolutamente nenhum contrato entre esses dois. Conceitualmente a idéia é boa, mas na realidade o que infelizmente acontece muito é que as empresas aproveitam para tratar o trabalhador como um empregado “normal” sem, no entanto, lhe atribuir os benefícios e regalias inerentes à posição. Ou seja, não existe vinculo empregatício, não pagam os impostos, seguridade social vai para o espaço, e como na maior parte dos casos os teletrabalhadores são contratados “por projeto”, podem ficar sem trabalho de um momento para o outro. Isso sem contar que muitas vezes a empresas levam muito mais tempo que o normal para pagar esses profissionais.

É uma pena. O que deveria ser uma solução inteligente para um mercado de trabalho cada vez mais descentralizado e globalizado acaba por se transformar em mais uma ferramenta ao serviço de uma forma insustentável de fazer negócios.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Mundo, 10 anos depois do 11 de setembro...

Como o tempo passa! Enquanto a geração dos nossos pais viram em direto o homem pisar na lua, a nossa geração viu a insanidade humana atingir níveis surreais nunca antes atingidos, fazendo homens arquitetar o plano de usar aviões comerciais cheios de gente para perpetuar atentados terroristas. E a insanidade, como outras características típicas do ser humano, é equitativamente compartilhada no mundo.
 
Leiam (e vejam) aqui o relato do evento, como vivido pelo Eduardo Castro, um amigo jornalista que estava em Washington nesse dia. É de arrepiar. Eu, na altura em Lisboa, como muitos acompanhei tudo pela televisão...como se de um filme estranho se tratasse. E os tempos que vieram depois foram ainda mais estranhos...
 
É impossível hoje ter uma visão bipolar do mundo, de bem e mal, preto ou branco. Na década anterior ao onze de setembro o muro de Berlim caiu e ficamos preocupados com o desequilíbrio das forças USA/URSS. Parecendo que não esses dois impediam um ao outro de “carregar no botão”. Sem a URSS, o campo se abriu para a hegemonia estadunidense. Mentira. Na verdade só apareceram mais focos de tensão em países que se tinha tornado peões da guerra fria e que agora se viam órfãos dos patrocinadores. Sim, é uma visão propositalmente simplificada desse momento da história.

O que mudou desde o onze de setembro? Duas guerras no médio oriente encabeçadas pelo EUA, uma delas iniciada com base em mentiras e hoje sem perspectiva de fim, Saddam foi enforcado, atentados aconteceram em Madrid e em Londres, Bin Laden foi executado, Guantanamo foi encerrada (dizem), e o mundo se tornou um lugar mais seguro... supostamente. Digo supostamente porque existem vários tipos de segurança, não é? Enquanto o Bush filho liderava o mundo civilizado contra o eixo do mal, o mercado financeiro aproveitou todo o espaço deixado pela falta de mecanismos de controle (autorregulação do mercado, não é?), a especulação (bolsista e imobiliária) provocou crises catastróficas cujas consequências são hoje pagas pelo Obama (e o resto do mundo, claro). A guerra continua no médio oriente, o conflito entre Israel e Palestina está tão violento que até os EUA pedem a Israel para levantar o pé. Enfim, as coisas não mudaram tanto assim. Perdão, mudaram um pouco sim. Os EUA passaram da posição de país dos sonhos (land of milk and honey) para bullies do mundo!

No outro dia eu comentava precisamente com uma amiga o quanto o mundo admirava os Estados Unidos há umas décadas atrás e como isso mudou hoje. Não que eles tenham deixado de ser admirados e cobiçados. Mas sem dúvida que a magia se esvaneceu. É como quando nos damos conta que um ídolo nosso é, afinal, apenas humano. O mundo lhes pertenceu durante muito tempo. Cinema, música, entretenimento, tecnologia, esportes, economia...todos esses campos eram dominados por eles. Toda a minha base cultural foi construída com base no que lá se produzia. Talvez seja apenas uma impressão. Não sei se foi assim tão forte aqui no Brasil (apenas assumo que tenha sido forte pela teimosia de muit@s em me chamar “Deividi” invés de “David” ou mesmo “Davi”). Nos países onde eu passei a influencia era gigantesca. Em França o ministro da cultura nos anos 80 teve que passar uma lei obrigando as rádios a passar pelo menos 40% de musica francesa. Em Espanha foi um pouco diferente no campo da música produto nacional era muito forte. Mas nos outros domínios, era tudo norte-americano.

Obviamente que não imputo essa mudança de percepção ao 11 de setembro e suas consequências. Mas é verdade que temporalmente o “declínio do império americano” coincide um pouco com essa década. Talvez tenha começado nos anos 90 e se tenha cristalizado no novo milênio. Essa mudança de percepção é tão importante e grandiosa que uma maiores batalhas do governo de Obama foi/é resgatar as relações internacionais e reposicionar o país no seu lugar de líder do novo mundo. Tenho sérias dúvidas quanto a essa possibilidade. Na verdade, quem me lê aqui há algum tempo já deve ter percebido qual é a minha escolha de país para esse papel, não é? Não sei como nem quando, mas é um feeling...