O Grupo PAR (onde trabalho) colocou uma comunicação sobre o voto consciente para todos os empregados. Isso gerou discussão (ainda bem) e eu me lembrei que já tinha falado sobre o assunto aqui. Mas a nossa conversa foi mais sobre as diferenças entre os sistemas políticos entre os continentes onde vivi.
Visto de fora, o brasileiro parece pensar que vive no país mais corrupto do mundo. Parece que os políticos daqui são os piores do mundo. O meu ponto de vista é um pouco diferente. Encontrei políticos corruptos em TODOS os países onde passei. Todos, nem absolutamente nenhuma exceção. A diferença estava essencialmente no nível de profissionalismo da corrupção. Quanto mais velha for a democracia, mais requintada é a corrupção. E faz sentido. Com a idade vamos ficando mais maduros e inteligentes, não é? O mesmo acontece com a democracia, suas qualidades e, obvia e infelizmente, seus defeitos.
Uma explicação simples é esta anedota que eu nunca esqueci:
Um ministro de um país A, uma democracia secular e com grande tradição política, recebeu em sua capital um ministro de um país B, recentemente saído da ditadura (uns 15 anos). Simpático, o ministro A convidou o outro a ir a casa. O ministro B foi e ficou espantado com a bela mansão num bairro chiquíssimo e com piscina. Com a informalidade e inocência dos recém-chegados, pôs-se a fazer perguntas:
Ministro B: Com um salário que não chega a cinco mil euros, como é que o meu amigo conseguiu tudo isto? Não me diga que era rico antes de ir para o Governo?
O ministro A disse que não, que antes não era rico. E para dar explicações, convidou o outro a ir até à janela.
Ministro A: Está a ver aquela auto-estrada?
Ministro B: Sim
Ministro A: Ela foi comprada por 100 milhões. Mas, na verdade, só custou 90 (piscando o olho)
Semanas depois, o ministro A foi de viagem a ao país B. O ministro B quis retribuir a simpatia e convidou-o a ir lá a casa. Era um palácio, com varandas viradas para o pôr-do-sol da praia, jardins japoneses e piscinas em cascata. O ministro A nem queria acreditar, gaguejou perguntas sobre como era possível um homem público ter uma mansão daquelas. O ministro B levou-o à janela.
Ministro B: Está a ver aquela auto-estrada?
Ministro A: Não. Onde??!
Ministro B: ... (piscando o olho)
É isso. Níveis diferentes, mas a essência é a mesma.
Isso nos levou a conversar sobre a questão do voto ser obrigatório ou não, qual a melhor solução. No fundo, o desafio é o do voto consciente. Eu penso que o voto deve ser obrigatório. Só que também reconheço a fragilidade do sistema perante aqueles que compram/vendem votos. O desafio é garantir que de fato a pessoa que vota no candidato o faz com conhecimento de causa, consciente da proposta que o candidato oferece. E fiquei a pensar se não poderíamos fazer um pequeno questionário que acompanharia o ato do voto propriamente dito. No momento de votar, o votante teria que responder a umas poucas perguntas sobre o posicionamento do candidato que ele apóia sobre diversos temas-chave (educação, saúde, religião, meio ambiente, etc...). Seriam perguntas do tipo “qual é a posição do candidato sobre a educação?
Opção A – a educação deve ser privatizada mas ficar sob o controle e avaliação do estado.
Opção B – a educação deve ser 100% pública.
Opção C – a educação universitária deve ser privatizada mas a educação básica se mantém sob a gestão do poder público.
Percebem a idéia, não é? Assim teríamos mais certeza que de fato as pessoas estão conscientes e conhecem o candidato. E mesmo que os candidatos venham a fornecer umas “colas” para o momento do voto (claro que iria acontecer!), só fato do votantes terem que decorar/saber essas coisas, já vai gerar conversa e discussão. Hoje, tenho quase a certeza que a maioria não tem essa noção.
Eu sei que pode parecer uma viagem, mas é um inicio de idéia. Alguma coisa que ajude a melhorar a participação dos cidadãos na vida pública, que diminua o fosso que cada vez mais separa a política do dia a dia das pessoas que ela é suposto servir...
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