terça-feira, 26 de julho de 2011

O papel da mídia...

Só agora me dei conta que ainda não tinha ajustado com a mídia aqui no Blog. No outro dia eu li um texto no blog da Fernanda, que transmitia a sua repulsa pela postura da mídia nos dias seguintes aos assassinatos que aconteceram na escola no Rio de Janeiro. E como eu a entendo. Sob o manto da rejeição ela questionava um pouco o papel da mídia no cenário atual. O link acima exemplifica bem o que eu quero dizer, com o narrador que apresenta o facto como se de um jogo de futebol se tratasse.
 
Falamos muito disso, não é? De como a mídia se tornou sensacionalista, vendendo historias repletas de sexo, sangue, mortos, corrupção, desastres naturais etc. Essa é uma tendência que, segundo uma pesquisa rápida e superficial, começou no fim do século XIX com Pulitzer e Hearst (Sim, esses mesmos. Um deu nome a um prêmio conceituado de comunicação e outro foi inspiração total para o clássico Citizen Kane de Orson Welles). A partir desse momento a mídia virou uma corrida para atingir grande circulação (vendas) e passamos a ter o direito de saber tudo que de pior acontece pelo mundo. Não quer dizer que as boas noticias não são relatadas. Elas são, mas representam uma pequena parcela do espaço total.

Já experimentaram analisar um jornal televisivo? Façam essa experiência. Pouco importa o canal, o resultado será quase sempre o mesmo: três quartos de notícias “negativas” e o resto de coisas mais leves. O jornais em papel seguem a mesma tendência e é normal, pois pertencem todos aos mesmos grupos de mídia. Não podemos dizer que não são coerentes. Isso é um retrato da realidade? No mundo em que vivemos acontecem mais coisas negativas do que positivas? Eu penso que não. No entanto não tenho duvida que o “negativo” vende mais. O que é uma pena porque e acredito que o “positivo” é incomparavelmente mais viral.

E qual a razão dessa virada? O que provocou essa transformação da mídia informadora e educadora (sim, teve esse objetivo sim), relatora isenta dos eventos, em uma máquina que apela pelos sentimentos mais básicos do ser humano para vender cada vez mais? Precisamente isso: a “descoberta” desse voyeurismo macabro que todo ser humano tem, com níveis distintos de atividade ou rejeição. O que é que vende? Ver outros seres humanos fazer coisas que nós, em algum lugar da nossa psique gostaríamos de fazer, mas não temos coragem para. O Big Brother não tem nenhum outro segredo. É só e unicamente um condensado desse lixo. Sim, sou muito intolerante com as pessoas que vêm esse tipo de programa. Lembro-me de um dia em Lisboa que, na empresa onde eu trabalhava, todos se levantaram ao mesmo tempo para ir ver na TV uma redifusão de uma cena que tinha acontecido no Big Brother durante a madrugada anterior. E a cena era simplesmente um homem dando um pontapé na barriga de uma mulher. Isso mesmo. E todos correram para ver, do senhor da limpeza à diretora de recurso humanos, diplomados, pós-graduados, doutorados...fiquei abismado. E o pior é que ninguém entendia a minha cara de gato espantado. E eu me perguntei – e ainda me pergunto – se a mídia não poderia decidir conscientemente fugir desse padrão e estimular o que de melhor têm os seus leitores/espectadores. Sim, sou inocente...

Como a maioria das pessoas de classe média, tenho uma TV em casa, tenho TV a cabo, Internet banda larga etc. Mas não me recordo de quando foi o ultimo jornal televisivo que vi. Jornais em papel então, acho que só leio quando vou à casa da minha mãe que assina um. E leio quase sempre só a pagina onde estão publicados os horários dos filmes. Vivo alheio do mundo? Não. Quando quero informação – e unicamente a informação que quero – acesso a Internet. Esse canal tem essa vantagem: eu posso saber o resultado de Wimbledon sem ter que ouvir que um homem matou a família à pancada em algum subúrbio do mundo. Posso saber como anda o projeto-lei que despenaliza o aborto ou legaliza a união entre pessoas do mesmo sexo, sem ter de aturar as noticias sobre os devaneios sexuais do ex-presidente/diretor do FMI. Posso escolher ver só coisas que considero positivas – sim, uma avaliação profundamente pessoal – sem me deixar alienar pelos detalhes sórdidos das noticias que considero negativas. Não ignoro. Simplesmente tento filtrar, destilar, consumir de uma forma que me deixa algo confiante com o destino da humanidade. Mas seria muito mais fácil se a mídia colaborasse voluntariamente. Eles têm acesso a milhões de pessoas ao mesmo tempo. Deveriam ser mais responsáveis. Muito mais. Mas como digo quase sempre, a bola não está unicamente no campo “deles”. Nós podemos sempre decidir “desligar” e ir ver lá fora como o Sol brilha.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sobre a animação "Rio"


Um dos consultores do Instituto Ethos nos explicou um dia, que quando entramos nesta “onda” da RSE e Sustentabilidade é terrível. Porque tudo é Sustentabilidade. Isso basicamente quer dizer que o profissional da área nunca para de trabalhar. Mesmo durante o meu lazer o olhar crítico não para. Em alguns momentos até parecemos “velhos e ranzinzas”, independentemente da idade real que temos. O olhar é assustadoramente critico. Mas não é uma critica destrutiva, daquelas que só vêm o mal em todo o lado? Antes pelo contrário, é um olhar construtiva, sempre com objetivos de melhorar.




Há meses atrás, como milhares de pais, fui ver a animação Rio com o meu filho. A expectativa era grande pois todo sabíamos que íamos ver uma realidade próxima. Ainda mais com os olhos do mundo virados para o Brasil e para o Rio – sim, preconceituosamente lá fora ainda acham que o Brasil é o Rio – ás vésperas da Copa e dos Jogos Olímpicos. Percebo que o filme também era uma oportunidade de “venda” do Brasil como destino turístico. Aliás, em pouco tempo dois filmes diferentes fizeram esse papel de guia turístico: Rio e Velozes e Furiosos, operação Rio.

Do ponto de vista técnico a animação arrebentou. Nunca as cores foram assim tão vibrantes, exóticas, os sons mais cristalinos. Quase que uma experiência sinestésica. Mas tudo o resto falhou. Até a tentativa de “vender” o Rio como destino turístico falhou, na minha opinião. O que eu vi foi uma série de preconceitos materializados a cores e em alta definição:
  • A dentista – médica formada e diplomada – meio nua dançando no calçadão
  • Os bandidos são todos negros e idiotas
  • O guarda é um gay reprimido
  • Os macaquinhos são ladrões
  • Os estrangeiros são inteligentes e roubados
  • Etc...
Estes são apenas alguns dos clichês que eu me lembro depois desse tempo todo. E não é o pior. O pior é tudo isso ter sido assinado por um diretor brasileiro – Carlos Saldanha. Se tivesse sido assinado por um diretor estrangeiro até que eu poderia colocar por conta da ignorância que sempre existiu. O outro filme dos carros que nem merece ser aqui explicado fez precisamente isso. Pintou a cidade com cores de fazem acreditar que a maioria dos habitantes do Rio são bandido. Sabem? Aquela técnica de filmagem que ajuda os menos inteligentes entre nós a distinguir os bonzinhos dos mauzinhos pela cor e definição de cada um? Isso mesmo.

Mas numa animação assinada por um brasileiro é como se ele estivesse a dizer para o resto do mundo “é assim mesmo. aquela visão que vocês têm do Rio (e consequentemente do Brasil) é verdadeira!”. E isso me custou um pouco. Tudo bem que até tem a redenção da criança que tenta amenizar um pouco o tecido de preconceitos – aliás isso dever ter dado idéias a quem ainda acha possível vir ao Brasil pegar crianças para adoção. Mas mesmo assim, confesso que saí do filme um pouco triste. O meu filho gostou mas aqui e ali ainda surgiram perguntas singelas do tipo “pai, todos os papagaios são roubados no Rio?”.

Pois é...