quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Educação inclusiva para uma nova realidade

Eu nunca gostei de estudar. Pois é. Nunca me senti bem no sistema de ensino tal como ele existia – e ainda existe. A ideia de ser fechado numa sala e ter de, de alguma forma, engolir tudo o que um professor diz era algo muito estranho. Hei de me lembrar sempre da minha primeira aula de filosofia no ultimo ano do secundário. O professor abriu a aula dizendo que “filosofia é a arte e capacidade de pensar”. A minha reação foi “mas, peraí, eu JÁ sei pensar!”. E ele nunca mais me viu na aula. No final do ano, passei na mesma.

Uma coisa que muito me incomodava era a constante pressão para ser o melhor. Para todo o sistema – professores e pais – eu tinha de me esforçar para ser o melhor aluno, no máximo de matérias/disciplinas possíveis. Era uma coisa que eu não percebia muito bem. Porque tinha que ser sempre o melhor? Porque não era suficiente ser só bom? Como eu era um aluno razoavelmente inteligente, dotado de boa memória auditiva, não era muito difícil ter notas acima da média. Mas nunca tentava ter a melhor nota possível, ou ser o numero 1 da turma. E essa atitude se prolonga até hoje. Uma boa dose de preguiça também ajuda, claro.

Esta historia serve de contextualização para a seguinte reflexão: esse sistema de educação que premia os melhores, os números 1s, la creme de la creme, etc, é apenas o reflexo da sociedade competitiva em que vivemos. Desde pequenos que ouvimos essa conversa que temos que ser sempre os melhores, os vencedores (expressão tipicamente estadunidense que foi abraçada com toda força por quase todo o Mundo moderno). Eu me lembro do meu pai me dizendo “filho, não importa o que escolhas fazer mais tarde, desde que sejas o melhor a fazê-lo. Podes ser varredor de rua, desde que sejas o melhor varredor!”. Hmm, sim, claro. Sabemos que não é bem assim, não é? Aliás, a teoria foi pro brejo quando eu lhe disse que queria ser músico. Lembram da dificuldade em ser coerente? Mas voltemos ao assunto do post...

Como eu disse, não entendia a cobrança para ser o melhor. Hoje entendo porque não entendia. O melhor é sempre um só. Os melhores são sempre minoria, um status exclusivo – oposto de inclusivo. Como podemos medir a qualidade e/ou evolução de uma comunidade, uma escola, uma cidade ou um país, unicamente baseado na avaliação de uma minoria? É como se disséssemos que a África é branca e rica, baseando-nos na população de Cape Town. Essa abordagem redutora provoca a fabricação de uma quantidade astronômica de jovens adultos que vão reger as suas vidas com base em premissas elitistas e excludentes, premissas que vão continuam a validar ad nauseum essa dicotomia entre primeiro, segundos, terceiros e quartos mundos, invés de provocar uma reflexão mais ponderada sobre o que é realmente a medida da nossa civilização. Ou seja, enquanto o mundo inteiro premiar/admirar/lisonjear/idolatrar/recompensar/incentivar os melhores/primeiros/ganhadores, não podemos ficar surpreendidos por uma visão egoísta e etnocêntrica das coisas. Nem sei se um é causa ou efeito do outros – ovo ou galinha. Mas sei que temos o poder de decidir que a partir deste momento, a melhor escola não é aquela que tem o aluno mais brilhante mas sim aquela onde todos os alunos passam de classe, onde os mais inteligentes ganham pontos por ensinar aos menos providos, onde os melhores atletas só ganham pontos em esportes de equipe aleatoriamente escolhidas (para evitar a reunião dos “melhores”, onde os professores têm por objetivo não deixar ninguém para trás, etc, etc. Tenho a certeza que se parássemos para pensar um pouco, poderíamos encontrar novos indicadores de um novo modelo educação infinitamente menos excludente que o atual. Mais ideias?

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