quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Reflexões aleatórias sobre segurança pública...

No bairro onde eu moro, a 3 ou 4 blocos da porta do meu prédio, havia uma escola de treinamento de vigilantes/seguranças. E a organização escolheu ter o nome de uma pistola usada pelo exercito nazista, durante a segunda guerra mundial. A entrada da escola se encontrava nas traseiras do prédio, num lugar com menos visibilidade e circulação. Mesmo assim confesso que não me sentia muito confortável com a presença deles. E a simbologia da arma não ajudava. Mas assumi que se eles estavam aí quando eu cheguei, provavelmente não incomodavam ninguém. E deixei passar. Relutantemente.
 
Pouco tempo depois, mudou-se para o meu prédio um policial com a família – esposa e filhinha. Conheci-o nas escadas, num dia que ele saía de bicicleta para levar a filha para a escola. Muito simpático, educado, aparentemente gente boníssima. Nessa altura eu não sabia que era policial. Só fui perceber isso um dia que nos cruzamos ao voltar do trabalho e ele estava todo equipado, arma no coldre e tudo.
 
Passou um tempo e a escola de vigilantes se mudou para o mesmo bloco que eu, 3 portas abaixo do meu prédio. Agora na rua principal, ao lado de uma escola de dança onde eu ia inscrever o meu filho para aulas de Street Dance. Agora a rua amanhece cheia de gente aguardando a abertura da escola. Claramente são pessoas das camadas mais pobres da população – vê-se que vêm de longe, muitas vezes mal tomaram o café da manhã para poder chegar a horas, ou para a inscrição, ou para as próprias aulas.
 
Entre o policial no prédio e a escola na rua, senti-me claustrofóbico. Refraseando: entre a arma no meu prédio e a escola com nome de arma na minha rua, senti-me claustrofóbico. E o fato do meu filho – e outras crianças – morarem e brincarem na rua, não muda nada da sensação. Eu sentir-me-ia assim mesmo se lá morasse sozinho. Tento fugir ao julgamento de valores, mas acabo por me perguntar sempre como o meu vizinho convive com o fato de ter uma arma no mesmo espaço onde vive a filha e a esposa. E é humanamente facílimo fazer esse “assassinato de caráter”, baseado unicamente no fato dele ter uma arma. É estranhamente fácil ser preconceituoso. O mesmo acontece com a escola. Nunca ouvi tiros, mas o primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi que poderia ter alguma sala de treinar tiros. O infeliz nome da escola me impele a esse tipo de pensamento. Tento racionalizar o medo com dados estatísticos. No livro “Freakonomics", o economista Steven Levitt e o jornalista Stephen Dubner mostram que é consideravelmente mais perigoso ter uma piscina em casa do que uma arma de fogo. Pois. Ou seja, estatisticamente, o meu filho está mais seguro no meu prédio onde tem uma arma de fogo, do que em casa da minha mãe onde têm uma piscina. Essa é a leitura tendenciosa que normalmente temos. Mas está errada. Duplamente errada. Primeiro porque, na melhor das hipóteses ele – o meu filho – não estaria “mais seguro” mas sim “menos inseguro”. Não sei para vocês, mas para mim é uma diferença gigantesca. Segundo porque para essa teoria ser válida, teria que ser verificada “sob condições normais de temperatura e pressão”. E na minha casa não tem piscina. Nem no meu prédio.
 
Durante as eleições para deputado distrital aqui em Brasília, ouvi o spot rádio de um candidato. Coincidentemente, era um “coronel qualquer coisa”. O spot dele dizia algo como “para quê ter mais escolas, transportes públicos, hospitais etc, se você não sabe se o seu filho pode chegar vivo ao seu destino por causa da violência na cidade? É preciso mais policiais para proteger o nosso povo...”. Imaginam a minha reação, não? Porque ter mais policia na rua raramente é sinônimo de segurança? Provavelmente porque a policia hoje é mais reativa do que proativa. Quando vejo muita policia num lugar, tento desviar o meu caminho porque isso quer dizer que é um lugar muito violento, não? E isso sem contar nos casos de abuso de poder, truculência, etc. Não me entendam mal. Não sou anarquista, longe disso. E muito menos sou original ou inovador. Como muitos, apenas partilho do pensamento que o debate da segurança pública está centrado nos objetivos errados: em resolver/mitigar/reduzir os efeitos, as consequências atuais. Não é ciência da NASA: para resolver o problema definitivamente, é preciso resolver o que causa o dito problema. É como tentar erradicar um vírus. Tem gente focada em cuidar de quem foi infetado e tem quem só está focada em encontrar a vacina que cura definitivamente. Eu sei que parece simples...

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