terça-feira, 21 de junho de 2011

Sobre o Programa Pro-equidade de Gênero e Raça

Acabamos de efetuar a inscrição no Programa de Equidade de Gênero e Raça da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Agora temos mais ou menos três meses para estruturar o planejamento e um cronograma de ações para apresentar durante um ano, para no fim poder obter o selo de Pro equidade. Simplificando um pouco o processo, para a obtenção do selo o plano de ação tem de ser avaliado e validado pela secretaria e depois temos de cumprir pelo menos 70% das ações planejadas. Posteriormente, para manutenção do selo, teremos de continuar com planos de ação anuais. O objetivo do selo é estimular nas empresas a implantação de mudanças estruturais que contribuam para reduzir o fosso entre mulheres e homens.

Quase sempre que eu menciono esse fosso, me respondem que as empresas não são sexistas, que elas apenas seguem a lógica de mercado de recrutar o melhor profissional para o cargo, independentemente do seu sexo, raça ou orientação sexual. Até as mulheres protegem usam esse discurso, sob o pretexto de não quererem ser favorecidas. Gente, é obvio que qualquer profissional, tendo a escolha num mercado justo e imparcial, preferiria ser escolhido pelas suas capacidades e não pela cor da pele ou por ser primo do dono. Bom, quase todos ;) Se seguirmos o raciocínio da lógica de mercado acima citado, e avaliamos estatisticamente o mercado do trabalho então podemos chegar à conclusão que o “melhor profissional para o cargo” é homem, branco e heterossexual. E eu não teria absolutamente nenhum problema com essa conclusão...se ela não fosse falsa. Com diz um amigo “eu até posso concordar contigo, mas aí estaríamos os dois errados!”. O mercado continua parcial desde os primórdios dos tempos quando nem pretos nem mulheres podia trabalhar – pouco importa as razões, pois hoje concordamos que elas estavam erradas. Isso quer dizer que é preciso um empurrão para corrigir. É um dos objetivos do selo. Eu entendo que atualmente o universo empresarial é ultra masculinizado, e as empresas têm essencialmente medo de se tornarem menos competitivas por dar acesso às mulheres a cargos gerenciais. Para mim esse ponto de vista, alem de ser altamente preconceituoso, demonstra sobretudo uma gritante falta de visão de negócio. Olhando para o mercado de forma assumidamente simplistica e pragmática, eu vejo que a maioria dos consumidores são mulheres. Não só são maioria como, mesmo quando não são o provedor da família, são elas que tomam a decisão de consumo. Quem melhor do que outras mulheres para abordar esse mercado?

Voltando ao programa, este ano foi adicionada a questão da raça. Eu confesso que ainda não sei se é boa idéia. A minha dúvida é genuína mesmo. Tendo a pensar que quando queremos resolver vários problemas ao mesmo tempo acabamos por não resolver nenhum. Ao mesmo tempo sei da urgência de tocar esses dois assuntos com a mesma veemência. Espero que essa junção venha agregar valor e não dispersar esforços. Como dizem “cachorro que tem dois donos morre de fome ou come duas vezes. Espero que seja a segunda opção.

Então agora é um caminho sem retorno? Sim. Creio que sim. É péssimo para qualquer empresa “sair” do selo. Isso demonstrará que o assunto deixou de ser tratado e priorizado internamente, creio. Ou então que seja pela boa noticia: a empresa já não precisa do selo porque atingiu todos os níveis de excelência na gestão do problema. Aís sim, é uma boa razão para se transformar num case, ensinar outras empresas a fazer o mesmo, e sobretudo comprovar com resultados que a equidade de gênero e raça trouxe mais valias que nunca antes tinha sido previstas ou exploradas ;) Abraços!

4 comentários:

  1. David, parabéns por mais esse grande passo!

    Abraços.

    Sandra.

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  2. A vantagem deste passo é que ele é difícil de desfazer ;)

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  3. Princípio da isônomia: "Tratar desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades" Rui Barbosa.
    Regra complexa, mas básica.

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  4. Até que não é assim tããããoo complexo, Valéria ;)
    A preguicite aguda é o maior fator negativo na implantação dessas mudanças.

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