Um dos consultores do Instituto Ethos nos explicou um dia, que quando entramos nesta “onda” da RSE e Sustentabilidade é terrível. Porque tudo é Sustentabilidade. Isso basicamente quer dizer que o profissional da área nunca para de trabalhar. Mesmo durante o meu lazer o olhar crítico não para. Em alguns momentos até parecemos “velhos e ranzinzas”, independentemente da idade real que temos. O olhar é assustadoramente critico. Mas não é uma critica destrutiva, daquelas que só vêm o mal em todo o lado? Antes pelo contrário, é um olhar construtiva, sempre com objetivos de melhorar.
Há meses atrás, como milhares de pais, fui ver a animação Rio com o meu filho. A expectativa era grande pois todo sabíamos que íamos ver uma realidade próxima. Ainda mais com os olhos do mundo virados para o Brasil e para o Rio – sim, preconceituosamente lá fora ainda acham que o Brasil é o Rio – ás vésperas da Copa e dos Jogos Olímpicos. Percebo que o filme também era uma oportunidade de “venda” do Brasil como destino turístico. Aliás, em pouco tempo dois filmes diferentes fizeram esse papel de guia turístico: Rio e Velozes e Furiosos, operação Rio.
Do ponto de vista técnico a animação arrebentou. Nunca as cores foram assim tão vibrantes, exóticas, os sons mais cristalinos. Quase que uma experiência sinestésica. Mas tudo o resto falhou. Até a tentativa de “vender” o Rio como destino turístico falhou, na minha opinião. O que eu vi foi uma série de preconceitos materializados a cores e em alta definição:
- A dentista – médica formada e diplomada – meio nua dançando no calçadão
- Os bandidos são todos negros e idiotas
- O guarda é um gay reprimido
- Os macaquinhos são ladrões
- Os estrangeiros são inteligentes e roubados
- Etc...
Mas numa animação assinada por um brasileiro é como se ele estivesse a dizer para o resto do mundo “é assim mesmo. aquela visão que vocês têm do Rio (e consequentemente do Brasil) é verdadeira!”. E isso me custou um pouco. Tudo bem que até tem a redenção da criança que tenta amenizar um pouco o tecido de preconceitos – aliás isso dever ter dado idéias a quem ainda acha possível vir ao Brasil pegar crianças para adoção. Mas mesmo assim, confesso que saí do filme um pouco triste. O meu filho gostou mas aqui e ali ainda surgiram perguntas singelas do tipo “pai, todos os papagaios são roubados no Rio?”.
Pois é...
Finalmente, vi Rio. Sabes que vivo em outro tempo, por isso demorou um pouco.
ResponderExcluirDe fato, as cores, a sincronia dos sons, a realidade dos movimentos, tudo é maravilhoso.
Mas também fiquei com a sensação de que só tecnicamente é bom. (Não por acaso, frequentamos os mesmos cursos do Ethos) Mas o filme me lembrou muito o personagem Zé Carioca, da Disney. Aquela coisa estereotipada, preconceituosa, que quer colocar o Brasil como local exótico, mas de forma negativa.
Diferente de todas as animações que vi nos últimos anos, essa não tem um bom roteiro, não é criativa no texto, não tem mensagem para a criança e menos ainda para o adulto, é um filme chato, sem emoção, cheio de clichês.
Imagino que o estado do Rio tenha investido uma grana no filme, para levar uma boa imagem da cidade para o mundo e tudo que conseguiu foi reafirmar o preconceito de que em nossas cidades macacos e cobras cruzam as ruas lado a lado conosco e ainda somos tão bandidos que ensinamos os macaquinhos a levar as jóias daqueles que trazem dólares e euros para nosso país.
Isso se eu não quiser ir além e entender que aqueles macaquinhos representam os filhos das favelas... não o pessoal que fez o desenho não parece capaz de elaborar tanto. As pessoas das favelas estava mesmo representadas por seres humanos que cometem crimes, como manda o bom e velho estereótipo.
Desnecessário.
Beijos.
Se o estado do Rio investiu R$ no filme deveria pedir o reembolso. Eu faria.
ResponderExcluirBeijos