sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sobre a animação "Rio"


Um dos consultores do Instituto Ethos nos explicou um dia, que quando entramos nesta “onda” da RSE e Sustentabilidade é terrível. Porque tudo é Sustentabilidade. Isso basicamente quer dizer que o profissional da área nunca para de trabalhar. Mesmo durante o meu lazer o olhar crítico não para. Em alguns momentos até parecemos “velhos e ranzinzas”, independentemente da idade real que temos. O olhar é assustadoramente critico. Mas não é uma critica destrutiva, daquelas que só vêm o mal em todo o lado? Antes pelo contrário, é um olhar construtiva, sempre com objetivos de melhorar.




Há meses atrás, como milhares de pais, fui ver a animação Rio com o meu filho. A expectativa era grande pois todo sabíamos que íamos ver uma realidade próxima. Ainda mais com os olhos do mundo virados para o Brasil e para o Rio – sim, preconceituosamente lá fora ainda acham que o Brasil é o Rio – ás vésperas da Copa e dos Jogos Olímpicos. Percebo que o filme também era uma oportunidade de “venda” do Brasil como destino turístico. Aliás, em pouco tempo dois filmes diferentes fizeram esse papel de guia turístico: Rio e Velozes e Furiosos, operação Rio.

Do ponto de vista técnico a animação arrebentou. Nunca as cores foram assim tão vibrantes, exóticas, os sons mais cristalinos. Quase que uma experiência sinestésica. Mas tudo o resto falhou. Até a tentativa de “vender” o Rio como destino turístico falhou, na minha opinião. O que eu vi foi uma série de preconceitos materializados a cores e em alta definição:
  • A dentista – médica formada e diplomada – meio nua dançando no calçadão
  • Os bandidos são todos negros e idiotas
  • O guarda é um gay reprimido
  • Os macaquinhos são ladrões
  • Os estrangeiros são inteligentes e roubados
  • Etc...
Estes são apenas alguns dos clichês que eu me lembro depois desse tempo todo. E não é o pior. O pior é tudo isso ter sido assinado por um diretor brasileiro – Carlos Saldanha. Se tivesse sido assinado por um diretor estrangeiro até que eu poderia colocar por conta da ignorância que sempre existiu. O outro filme dos carros que nem merece ser aqui explicado fez precisamente isso. Pintou a cidade com cores de fazem acreditar que a maioria dos habitantes do Rio são bandido. Sabem? Aquela técnica de filmagem que ajuda os menos inteligentes entre nós a distinguir os bonzinhos dos mauzinhos pela cor e definição de cada um? Isso mesmo.

Mas numa animação assinada por um brasileiro é como se ele estivesse a dizer para o resto do mundo “é assim mesmo. aquela visão que vocês têm do Rio (e consequentemente do Brasil) é verdadeira!”. E isso me custou um pouco. Tudo bem que até tem a redenção da criança que tenta amenizar um pouco o tecido de preconceitos – aliás isso dever ter dado idéias a quem ainda acha possível vir ao Brasil pegar crianças para adoção. Mas mesmo assim, confesso que saí do filme um pouco triste. O meu filho gostou mas aqui e ali ainda surgiram perguntas singelas do tipo “pai, todos os papagaios são roubados no Rio?”.

Pois é...

2 comentários:

  1. Finalmente, vi Rio. Sabes que vivo em outro tempo, por isso demorou um pouco.

    De fato, as cores, a sincronia dos sons, a realidade dos movimentos, tudo é maravilhoso.

    Mas também fiquei com a sensação de que só tecnicamente é bom. (Não por acaso, frequentamos os mesmos cursos do Ethos) Mas o filme me lembrou muito o personagem Zé Carioca, da Disney. Aquela coisa estereotipada, preconceituosa, que quer colocar o Brasil como local exótico, mas de forma negativa.

    Diferente de todas as animações que vi nos últimos anos, essa não tem um bom roteiro, não é criativa no texto, não tem mensagem para a criança e menos ainda para o adulto, é um filme chato, sem emoção, cheio de clichês.

    Imagino que o estado do Rio tenha investido uma grana no filme, para levar uma boa imagem da cidade para o mundo e tudo que conseguiu foi reafirmar o preconceito de que em nossas cidades macacos e cobras cruzam as ruas lado a lado conosco e ainda somos tão bandidos que ensinamos os macaquinhos a levar as jóias daqueles que trazem dólares e euros para nosso país.

    Isso se eu não quiser ir além e entender que aqueles macaquinhos representam os filhos das favelas... não o pessoal que fez o desenho não parece capaz de elaborar tanto. As pessoas das favelas estava mesmo representadas por seres humanos que cometem crimes, como manda o bom e velho estereótipo.

    Desnecessário.

    Beijos.

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  2. Se o estado do Rio investiu R$ no filme deveria pedir o reembolso. Eu faria.

    Beijos

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