No outro dia mandaram-me este vídeo.
Que fabuloso, não é? Onde foi parar esse instinto da partilha, visivelmente natural? O que acontece durante as nossas vidas que faz com que o ato de dividir se torne progressivamente mais sofrido? Será porque as coisas se tornam também progressivamente mais difíceis de conseguir. No vídeo o sanduíche é obtido sem nenhum esforço, então talvez por isso a partilha seja tão fácil, não é? Não vou negar a existência de pessoas naturalmente egoístas ou altruístas. É preciso de tudo para fazer um Mundo. Mas não deixo de ficar fascinado pela capacidade de corrupção das sociedades modernas.
Ao observar as crianças – tenho um filho de dez anos – é evidente a facilidade de integração que eles mostram. E quanto mais novos, mais evidente é. Lembro-me uma vez no aeroporto de Guarulhos, a nossa conexão para Brasília estava atrasada e ficamos horas numa sala de espera. E o meu filho, que tinha uns quatro ou cinco anos nessa altura, brincava com crianças que nunca tinha visto em lado nenhum – algumas delas vinham de países cuja língua ele nem falava como China ou Suécia. Os adultos estavam preocupados com a alimentação deles, hidratação etc, mas eles apenas brincavam. E quando algum dos pais dava à sua prole algo para comer, este se apressava de voltar para o seu grupinho e partilhar com os outros o suco ou barra de cereais que acabava de ganhar. E obviamente que os pais se olhavam, reticentes. Sabem aquela coisa “não deves aceitar comida – ou qualquer outra coisa – de pessoas que não conheces"? Pois. A nossa coerência era colocada em prova pelo olhar das crianças, aquele olhar que diz “Pai, e agora? Aceito ou não?”. Fascinante como todos pensavam o mesmo, embora em línguas e culturas diferentes. E obviamente que deixávamos os filhos partilharem uns com os outros, algo que nós, adultos educados e civilizados, nunca faríamos pois obedecemos a outro conjunto de regras socializantes. Ou apenas porque, algures no nosso caminho, deixamos de ser coerentes, aprendemos a ter medo do mundo lá fora, passamos a ser mais protecionistas do que é “nosso”.
Durante esta reflexão lembrei-me de outro vídeo. Lembram-se da Severn Suzuki, aquela menina de 12 anos que falou na conferencia ECO 92 (Meio Ambiente) da ONU? Entre as várias cobranças que ela fazia aos adultos, a mais interessante é a cobrança por coerência. Tantas coisas que dizemos ao nossos para fazer, e quando adultos fazemos exatamente o oposto?
E eu que achava que quando “fosse grande” seria diferente. Partilhar é mesmo morrer um pouco...
E eu que achava que quando “fosse grande” seria diferente. Partilhar é mesmo morrer um pouco...
Ontem minha filha foi brincar com uma criança que nasceu no Brasil, mas esta sendo criada na Suécia e, portanto, fala mais sueco que português. Uma tem quase três e a outra tem dois. Resultado: nenhuma barreira de comunicação, era quase como se a língua falada fosse apenas um detalhe das ferramentas de comunicação entre ela. Achei isso curioso de observar.
ResponderExcluirPois é :)
ResponderExcluirEm algum momento durante o crescimento eles vão perder essa facilidade, infelizmente. Pelo menos para a maioria. Vão aprender a ter medo, a se resguardar, sei lá...