segunda-feira, 21 de março de 2011

As mudanças climáticas e os negócios

Há muito que me pediram para falar sobre este tema. Com o recente terremoto no Japão, não dá para protelar o assunto. Estima-se que a catástrofe japonesa custe a bagatela de 35 bilhões de dólares às seguradora. E esse número muda todos os dias. Neste caso, até se trata apenas de um setor que vai ter que cumprir com o que prometeu: indenizações em caso de acidentes, mesmo que sejam naturais. Ou seja, o que probabilisticamente era para ele – o setor – um excelente negócio, acabou de ser a razão da sua morte, no sentido figurado, claro.

Durante séculos agimos com a firme convicção que as nossas ações não tinham consequências para o planeta, que a terra poderia suportar todo o tipo de abuso. Mas sejamos claros. Eu não faço parte dos que acham que a terra tem uma “alma que sofre com os ataques do homem, que se vinga etc, etc”. Mas por mais que eu não atribua essas características humanas ao planeta, não deixo de pensar que todo o sistema que chamamos de “natureza” repousa sobre um delicado equilíbrio de forças, que durante muitos séculos o homem não conseguia influenciar. No entanto, desde a revolução industrial o ritmo de dilapidação dos recursos do planeta deve ter causado com certeza alguma ruptura nessa cadeia de forças. Não tenho dúvida que a terra vai nos sobreviver. Historicamente ela já provou que o seu poder de recuperação é quase inesgotável – vide big bang e outras catástrofes naturais. No entanto desta vez, o período de recuperação pode ser maior devido à extensão dos estragos insidiosos que vimos fazendo nos últimos séculos.

Isso me leva à influencia dessa evolução tem no mundo dos negócios. Aproveitando o “gancho” das seguradoras acima, já vemos um ramo de negócios que é cada vez mais diretamente impactado pelas catástrofes naturais. E pelo pouco que eu entendo da coisa, não era o seu foco de atuação principal. Aliás é só ver os tipos de seguros mais usados – auto, casa, roubo, incêndio, vida, saúde, etc – nenhum está diretamente relacionado com catástrofes naturais. Um exemplo de adaptação do mercado é o aparecimento de seguros contra tufões, na costa norte-americana. Fica-me a dúvida se as companhias de seguros não deveriam investir pesadamente em ações que possam mitigar as catástrofes naturais, como estratégia de sustentabilidade do próprio negócio. É obvio que não será possível evitar a catástrofe por inteiro, mas os efeitos podem ser combatidos.

Outro exemplo que me vem, da influencia obvia das catástrofes naturais nos negócios é na construção civil. No Japão por exemplo, uma área que sabemos ter terremotos, os prédios são construídos sobre sistemas que os protegem contra vários tipos de tremor de terra.

Interessante ver que num caso como no outro – furacão ou terremoto – as pessoas decidem ficar onde estão e encontrar soluções. Confesso que não sei se teria essa resiliência. Depois de ver a minha casa destruída duas ou três vezes por um ou outro, provavelmente abandonaria a região.

Conclusão caótica deste pensamento desorganizado: vamos ter que arranjar mesmo outra forma de viver numa terra que tem dado todos os sinais não nos querer mais por aqui. Já ouvimos falar de todos os cenários catastróficos possíveis. Quem nunca leu que o limite de aquecimento para este século tem de ser de dois graus? Alguns – poucos – dizem que não há de acontecer nada, que tudo ficará bem. Outros – muitos – dizem que temos entre 50 e 100 anos para mudar o nosso padrão civilizacional, caso contrário o fim pode estar mais perto que pensamos. O mais louco disso tudo é que, com a evolução da medicina, 100 anos é do tempo de vida dos nossos filhos. Não se trata de um futuro longínquo que não podemos ainda ver. É logo ali, a poucas décadas de nós.

Enfim, dá para pensar... ou melhor, já não dá para pensar muito. Dá para agir!

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