quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Que vivam tempos interessantes (e históricos)!

No domingo passado, dia da eleição da Dilma, não pude deixar de pensar que, apesar de tudo, vivo uma época excepcional. Durante a minha vida aconteceram alguns momentos históricos, momentos marcantes, alguns bons, outros menos. É o que desejo a qualquer pessoa, como diz o ditado chinês, “que vivam tempos interessantes” ou “que vivam em tempos interessantes”.
 
Não dá para listar todos, mas assim de memória, eu vi o fim da guerra colonial portuguesa e a libertação dos PALOPs (países africanos de língua oficial portuguesa) entre 72 e 75, estava vivo quando John Lennon foi assassinado, vi o desmantelamento da URSS, assisti em direto na televisão à queda do muro de Berlim e consecutivo desmantelamento do bloco de leste – lembro-me do julgamento e execução do ditador romeno Ceausescu, o aparecimento do computador, do BBS e depois da internet, vivi os momentos de angústia do atentado do 11 de setembro, a morte de Michael Jackson, o acidente que custou a vida a Ayrton Senna, o fim da guerra fria, etc.

Num passado mais recente eu vejo dois grandes momentos, daqueles que de fato talvez mostrem o virar de uma civilização. Não faço mínima idéia de vai ser para melhor – embora tenha obviamente essa esperança – ou para pior, mas que são momentos simbólicos, são sim: a eleição do primeiro negro à presidência dos Estados Unidos e a eleição da primeira mulher à presidência do Brasil.
 
Tenho a esperança que daqui a uns anos tenho a certeza que olharemos para trás e veremos que tivemos a honra de testemunhar a história enquanto esta acontecia, mais uma vez. Independentemente da sua posição política, é difícil não reconhecer o passo gigantesco que o povo brasileiro deu ao eleger uma mulher para o seu cargo soberano mais alto. Eu já falei aqui algumas vezes da masculinidade do universo corporativo e político. Muitos se escondem por trás da falácia do auto-regulamento do mercado – seja ele qual for, que o mercado é justo etc. Na realidade notamos que o mercado nunca é livre – existem influenciadores, lobbies etc, e ainda por cima ele é racista e misógina. Interessante ver que, salvo erro, mesmo na eleição que apresentou mais mulheres entre os candidatos com reais chances de ganhar (duas mulheres e um homem), nenhum partido respeitou a cota de pelo menos 30% de mulheres que tinha que apresentar nas suas chapas. Surreal, não? Por isso considero a eleição da Dilma um momento histórico. Uma mulher no poder: já era mais que tempo!

E desejo que a presidenta Dilma também continue a viver tempos interessantes, e que ela contribua para que a população possa também viver tempos cada vez mais interessantes. Espero ela governe com justiça e transparência, que tenha estratégias consistentes de desenvolvimento sustentável que beneficiem a maioria dos brasileiros, independentemente da sua raça, cor ou credo, que a sua presidência seja inclusiva, com uma equipe coesa e impermeável à corrupção, que o seu governo recupere a diretriz do estado laico para todos ao mesmo tempo que defende o direito e liberdade de cada um praticar a sua religião ou crença – qualquer religião ou crença. E o mais importante, em minha opinião, que faça da melhoria da educação pública o foco principal do seu mandato, pois só assim as pessoas vão crescer, ter melhores empregos, se tornarem consumidores e eleitores conscientes.

Mas também espero que a oposição esqueça depressa a mágoa da derrota e volte a fazer o papel que é esperado dela, numa democracia consolidada como a do Brasil: o de oferecer o contraponto e a crítica construtiva ao governo, o de fiscalizar a implementação das promessas, e de apresentar projetos que visem sempre a melhoria social e econômica da população. Afinal de contas esse é um objetivo comum a todas as chapas políticas, certo?

Em última análise, tudo isto só tornará o Brasil na potência e liderança mundial que merece ser.

É muita esperança? Nem por isso. O meu lema sempre foi ser sonhador... 
 

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