sexta-feira, 9 de julho de 2010

E se falássemos um pouco da Copa?

Pois é. Tudo tem a ver com RSE, sustentabilidade, um mundo melhor etc, etc. E a copa do mundo é um bom laboratório de relacionamentos. Vejam só. O lema das ultimas copas, salvo erro, desde 1998, tem sido a tolerância, a luta contra todas as formas de violência,racismo e exclusão, a paz entre os povos, etc, não é? A FIFA tem apregoado em todos os fóruns que a copa é precisamente um momento de união entre os povos. O spot publicitário com a voz do Bono resume perfeitamente a intenção.


A intenção é louvável. Tenho dúvidas quanto ao resultado atingido. O futebol tem esse dom de despertar paixões. E normalmente paixão e bom senso nunca andam de mãos dadas. Eu percebo pouco de futebol, é um fato. Mas a copa do mundo é um dos raros momentos em que me envolvo com o assunto. É difícil não se deixar contagiar pelo entusiasmo. E acho fantástico que de fato, de 4 em 4 anos, o mundo pára para ver os duelos entre as equipes. Como imaginam dispenso facilmente os nacionalismos exacerbados que normalmente surgem. Infelizmente faz parte do pacote.

Este ano a copa tem sido (para mim pelo menos) apaixonante. Mesmo com a saída dos times por quem eu torcia (Brasil, Portugal, qualquer time africano, Uruguai por ter ido tão longe...). Por todo o lado tenho ouvido que esta copa foi péssima porque os suspeitos de costume (supostamente os melhores times: Brasil, Itália, França, Inglaterra, Argentina, Alemanha...) não confirmaram que são... os suspeitos de costume. Ouvi até que mesmo que a Espanha e a Holanda tenham ganhado TODOS os jogos até agora, são times inferiores aos que perderam. Aliás, a frase correta parece ser “a Espanha e a Holanda não ganharam. Os outros é que perderam”. Que estranho, não? E eu que pensei que para chegar na final era preciso ganhar de todos os outros. Alguma coisa me escapou? Lembra-me um pouco a atitude desprezível de alguns pasquins portugueses (alguns até supostamente muito respeitáveis), que depois da Grécia ganhar o Euro2004 contra Portugal (e ganharam contra Portugal 2 vezes durante a competição, na entrada e na saída, seja dito “en passant”), diziam em letras garrafais “o triunfo do futebol parasita”. Que injustiça! Se querem discutir semântica (eles não ganharam, nós perdemos), não contem comigo. Eu só vejo que é uma imensa falta de respeito pelas equipes que estão na final (repito para os mais distraídos: ganharam todos os jogos até agora), pela torcida dessas mesmas equipes, e, em ultima análise vai totalmente contra os objetivos da competição. Aliás, não sei se foi a primeira ou mesmo a única equipe que fez isso numa copa, mas a Holanda tem feito um gesto que eu acho fantástico: eles jogam com uma camiseta que leva sempre 2 bandeiras: a deles e a do adversário. Isso sim é respeito!

Um amigo meu com quem jogo tênis regularmente me contou como ele prefere o tênis ao futebol. É importante saber que ele é fanático do Flamengo, é arbitro federado e jogador também. Ele me explicava como está desiludido pelo que manto de má fé que tomou conta do esporte que ele tanto gosta. Ele me contou sobre os jogadores que fingem as faltas, a violência em campo (verbal e física), a desonestidade – a bola não bateu em mim antes de sair – a falta de fair-play, etc. Em me dizia que no tênis é precisamente o oposto. Mesmo entre os 10 maiores jogadores do mundo existe tanto respeito que se o juiz dá uma bola fora erroneamente, o jogador que ganharia o ponto com esse erro devolve o ponto para o adversário. E o publico gosta, respeita e encoraja muito essa atitude. No futebol infelizmente parece que não é bem assim.


Conclusão: o barão Pierre de Coubertin, fundador dos jogos olímpicos modernos, dizia que o importante é participar, “o essencial da vida não é vencer, senão lutar bem”. Não há perdedores ou ganhadores. O importante é a união, o entendimento entre os povos, a integração de culturas, o respeito pelo adversário. E sustentabilidade tem a ver precisamente com isso. É juntar as pessoas.

Vamos Espanha! Vamos Holanda! Que vença a melhor equipe do mundo!!

7 comentários:

  1. Curti muito seu post David. E concordo com seu amigo tenista quanto ao comportamento dos jogadores de futebol atualmente. E também da torcida, dos jornalistas etc. Por isso gosto tanto do Panela e torço para que ele volte com a mesma força e atitude de antes. Bola pra frente!

    ResponderExcluir
  2. Pois é Peruco. Só o nosso Panela FC é digno da FIFA, não é? Vou tentar de tudo para que a gente volte a fazer futebol-arte o quanto antes :)
    E obrigado pela visita. Volta sempre!

    ResponderExcluir
  3. Bom texto, Costinha.
    Só uma correção: a Espanha perdeu o primeiro jogo, para a Suiça (0 x 1).
    Pena que os paneleiros ficaram frouxos...

    ResponderExcluir
  4. Bem lembrado. Tinha me esquecido dessa surpresa da fase inicial. Mas bom, não deixa de ser válido mesmo assim, não é?
    Os paneleiros não ficaram frouxos. Só deixaram o palco por uns instantes e voltarão em breve, mais gloriosos do que nunca ;)

    ResponderExcluir
  5. Bom texto, Costinha.
    De fato, espanta a soberba de alguns jogadores ou jornalistas que sempre depreciam os méritos dos outros. E, a propósito: o time brasileiro era uma grande bosta (e eu quase apanhei por dizer isso desde a convocação).

    ResponderExcluir
  6. Showza, eu não diria que o time brasileiro era uma grande bosta mas sim que não soube (não sabe?) lidar com a pressão de estar a perder. É uma pena pois a primeira parte do jogo contra a Holanda foi dos melhores que eu vi na copa. Pena...

    ResponderExcluir
  7. Ainda bem que você logo disse que percebe pouco de futebol e que parece só acompanhar o esporte de quatro em quatro anos.
    As pessoas que, como eu, defendem que os demais times perderam, não foi nem Holanda nem Espanha que ganharam, são pessoas que gostam do futebol. Vivem o esporte em seu dia a dia. Não vibram apenas na hora do gol. Querem ver boas jogadas, dribles, pedaladas, jogadas bonitas que nos fazem gritar mesmo sem ter o gol no final. Futebol é isso.
    Se a Holanda tivesse aparecido com alguma novidade, se fosse como na Copa de 74, onde não ganhou o campeonato, mas encantou o mundo com o Carrossel Holandês da Laranja Mecânica... seria lindo.
    Não é verdade que as pessoas torcem só para os suspeitos de sempre. Em 1994 eu lembro do Brasil torcendo para o Brasil, claro, e para Camarões. Suspeito de nunca. Todo mundo queria ver mais jogos daquela seleção de um país que pouco ouvíamos falar. Roger Milla, com cerca de 40 anos de idade, virou ídolo do esporte.
    Então, quando falamos que não vai vencer o melhor nessa Copa, porque é uma Copa sem melhores e sim com menos piores, é disso que estamos falando, da falta do futebol arte.
    O primeiro tempo do jogo Brasil e Holanda foi bonito mesmo. Concordo que um dos melhores da Copa, ainda que para mim o melhor mesmo foi a prorrogação de Gana e Uruguai. Uruguai esse que, por sinal, seguiu em frente graças a um jogador que tirou a bola de dentro do gol com as duas mãos (e não era o goleiro). Percebe? Coisa feia...

    ResponderExcluir