quinta-feira, 20 de maio de 2010

As vantagens e perigos da inovação

O título do deste artigo pode parecer estranho, mas já vão perceber onde quero chegar. Na conferência internacional do Ethos ouvi muito falar da inovação como um dos pilares da sustentabilidade. E é obvio que é verdade. A inovação permite coisas muito importantes para a nossa sustentabilidade como seres humanos, e conseqüentemente do planeta em que vivemos. Entre muitas outras vantagens, a médio ou longo prazo, a inovação:
  • Permitirá a progressiva substituição das energias de origem fóssil por energia renováveis e limpas
  • Fará com que seja possível usar cada vez menos matéria prima/recursos finitos na produção de bens de consumo
  • Mudará os ciclos de vida dos produtos para que haja menos descarte e mais recuperação, reutilização e reciclagem
  • Influenciará a mudança dos padrões de consumo das pessoas, através de tecnologias de comunicação e relacionamento cada vez mais eficientes
  • Permitirá sempre a progressiva melhoria da qualidade de vida das pessoas. Vejam como a nanotecnologia está a revolucionar a medicina. No outro dia vi uma reportagem sobre um nano robô que pode navegar pelas veias e artéria do corpo humano e levar o remédio diretamente para a célula danificada
  • Etc, etc.
A lista acima nem sequer pretende ser exaustiva. Os bem-feitos da inovação são inúmeros, isso é do conhecimento de todos.

No entanto uma coisa me preocupa. Falamos tanto da inovação que me parece que nos esquecemos que a inovação por si só não nos salvará. Ou seja, mais uma vez estaremos a discutir uma solução possível do problema e não o problema em si. A inovação é apenas um dos apetrechos necessários para fazer esta viagem. Sozinha ela não garantirá que lá cheguemos, não acham? Ninguém melhor que Frank Herbert (escreveu Dune. Se não leram o livro, procurem o filme, dos anos 80, com o Sting ;) resumiu melhor esse pensamento. Ele disse "Once men turned their thinking over to machines in hope that this would set them free. But that only permitted other men with machines to enslave them".

Não gosto de escrever ou falar de evidências, mas infelizmente certas coisas vão ter que ser repetidas à exaustão até que a “ficha caia”. O caminho consistente para a sustentabilidade não é feito de artefatos ou adornos. Não se trata de uma operação de marketing ou de relações públicas. Ele é feito de mudanças estruturais e consistentes na forma como vivemos, como nos relacionamos, como trabalhamos, de como consumimos, como fazemos negócios, como ganhamos e gastamos dinheiro, como nos relacionamos com o dinheiro e a riqueza, como qualificamos a qualidade de vida etc. Até o caráter inclusivo dessa tal inovação precisa ser bem resguardado para que não continuemos a fomentar um mundo onde apenas a minoria vive decentemente.
É um reinventar da espécie humana. E isso, embora eu seja totalemente agnóstico, tenho muita fé que é possível. É a minha esperança de que o instinto de sobrevivência do homem um dia seja maior do que a sua ganância.

É. Sou um ser de contradições. Mas cheio de esperança! :)

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