quarta-feira, 16 de maio de 2012

E o microcrédito?

Nos últimos tempos não tenho publicado textos porque infelizmente – e felizmente – tenho estado ocupado com um projeto relacionado com o microcrédito. Todos sabem a importância que o tema tem tido para o atual governo. Entre os diversos programas governamentais (Crescer, PNMPO, etc) e a possível formação de um ministério focado nas microempresas, é senso comum chegar à conclusão que o microcrédito é visto como uma das ferramentas mais eficientes para consolidar a saída da linha da pobreza, de grande parte da população.
 
Eu já conhecia um pouco sobre o assunto graças, essencialmente, à experiência do Professor Muhammad Yunus, no Bangladesh. A experiência do Grameen Bank foi fulcral par ao desenvolvimento do microcrédito para o resto do mundo. Ao pesquisar sobre o assunto fui descobrindo experiências fantásticas espalhadas pelo mundo. Por exemplo, descobri a existência do Kiva, uma plataforma que permite que pessoas emprestem dinheiro para financiar micro projetos/ideias/empreendimentos, em toda a parte do mundo, invés de bancos ou empresas. O modelo é simplérrimo e parece funcionar lindamente. Uma solução simples para um problema complexo. E é um efeito positivo da globalização.
 
Pelo que pude avaliar ao pesquisar sobre o assunto, dois pontos me pareceram essenciais para o sucesso do microcrédito: o uso de grupos solidários, onde as pessoas dependem umas das outras para poder usufruir do empréstimo sem garantias ou colaterais. Aqui entra a importância da reputação, da honra. Quem não tiver boa reputação dificilmente arranja alguém para se tornar solidário da dívida, não é? Nesse sentido acaba por ser um sistema de ganha/ganha, pois quem não tem garantias para apresentar usa o “bom nome” como tal, e o banco também dilui o seu risco pelo grupo solidário. O segundo item de importância é a proximidade. Todos os modelos analisados mostram que quem empresta o dinheiro está bem próximo de quem toma, seja para acompanhar os empreendimentos (uma forma de garantir o retorno), seja com modelos de capacitação dos microempreendedores, seja com assessoramento, etc.
 
Pude verificar que “emprestar para pobre é um bom negócio”, extremamente rentável. Uma das conclusões da experiência do Grameen é que os pobres são extremamente bons pagadores, a inadimplência é baixíssima. Uma das razões da baixa inadimplência é o fato dessa população ser ainda muito avessa à formalidade e bancarização, valorizando muito a honra e o “bom nome na praça”. Ironicamente, são conceitos que tendem a desaparecer á medida que conhecemos e integramos a “máquina”, não é? Isso leva a outra análise: em geral, para o público de baixa renda, os juros baixos são muito menos importantes do que o próprio acesso ao crédito. Os produtos normalmente comercializados têm rotação e margens altas. Aliás, é por isso que muitas vezes existem agiotas atuando como pseudo-bancos comunitários, onde não há presença de bancos ou organizações oficiais. Sob esse pretexto, alguns bancos como o Compartamos, no México ou o próprio Grameen Bank em alguns dos seus produtos, trabalham o microcrédito com juros altíssimos, sendo assim alvo de severas criticas de organizações da sociedade civil.
 
Na semana passada fui a Fortaleza visitar o CrediAmigo, do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O microcrédito deles é operacionalizado em parceria com o Instituto Nordeste Cidadania (INEC). Fora o absoluto sucesso do modelo de negócio em todos os sentidos – geração de credito para população de baixa renda, bancarização parcial, treinamento e capacitação de cerca de 2200 agentes de credito, treinamento e capacitação dos tomadores de crédito, mais de 1 milhão de clientes, etc (acessem o site e vejam os balanços sociais) – o que mais me impressionou foi o entusiasmo das pessoas que trabalham em toda a cadeia produtiva. Mais que o resultado financeiro, que é belíssimo, o que mais parece motivar as pessoas é o efeito que o trabalho delas gera no dia a dia. As mudanças de realidade são visíveis, palpáveis. Muitos dos agentes dizem com orgulho, ser donos de um carro ou de uma moto, estar a estudar, ter ajudado a montar vários micronegócios, e por aí adiante. A viagem me deixou pensativo pois, creio, que foi a primeira vez que vi o setor bancário funcionar numa lógica de ganha/ganha com o seu cliente. Isso é esperançoso, não é?

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