Sempre que me perguntam em que consiste é o meu trabalho, respiro fundo e tento explicar sem parecer pedante. A forma mais simples de explicar é “tento convencer a empresa para qual trabalho a não pensar só em lucro”. Normalmente essa explicação é invariavelmente recebida com um olhar de admiração, seguido por um suspiro profundo e um “uau, boa sorte!”. E essa reação vem bem antes de explicar que a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) tenta incentivar as empresas a pensar e se relacionar de forma sistemática e coerente com todos os seus públicos de interesse. As palavras-chave aqui são “sistemática” e “coerente”.

Já ouço a pergunta que vale 1 milhão: mas se não é a área de RSE que deve cuidar desses assuntos, quem deve? É relativamente simples responder a essa pergunta se pensarmos uma área que trata de RSE e/ou Sustentabilidade como uma área com data limite, com prazo marcado para extinção. Quem trataria dos temas acima citados, se não houvesse a área de RSE? Provavelmente ficariam divididos entre quem cuida de pessoas, de comunicação, de administração etc., não é? O foco de uma célula de RSE ou de Sustentabilidade é e deve ser estratégico, consultivo. Não é uma área operacional. O seu objetivo não é “apagar o fogo”, mas sim e unicamente criar sistemas e estrutura para que “o fogo nunca acenda de novo”. É uma atitude preventiva bem mais do que reativa. Basta olhar com atenção para as 3 ferramentas principais da RSE no Brasil – ISO 26000, Pacto Global e Indicadores Ethos – para concluir que os temas tratados são absolutamente estratégicos e não podem depender de uma área sem suficiente poder executivo. Enquanto a célula de RSE não tiver poder para forçar as mudanças necessárias, ela continuará no seu papel superficialmente cosmético. Então qual é a solução? A minha sensação é que no fundo é relativamente simples. Ou se empodera claramente essas áreas para que elas possam agir diretamente na operação ou sistemas que impactam diretamente a cultura empresarial, ou o tema tem de subir um nível e passa a ser tratado no Conselho de Administração, como demandas imperativas para serem executadas pelo corpo de gestão. Tudo o resto é cosmética e greenwashing. Sem dizer que é uma enorme palhaçada...