sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A família no mundo corporativo

De há uns anos para cá – não sei desde quando – tenho visto muitas experiências de empresas que tentam trazer a família dos empregados para dentro do universo da empresa, de envolver os filhos e familiares próximos no ambiente corporativo.

Com pouquíssimo embasamento teórico ou técnico sobre o assunto, a minha leitura é a seguinte: as empresas são obrigadas pela lógica de mercado a ser continuamente mais exigentes com o seu maior recurso – as pessoas – para se poderem manter competitivas no mercado. Para tal são usadas metas, objetivos e outros instrumentos de pressão para melhorias produtividade. Até aqui não haveria nada de errado, não vamos discutir a dita lógica de mercado. O problema começa quando essa pressão começa a ser aplicada sem nenhum filtro de relações humanas, de fato considerando os empregados como meros componentes da engrenagem que podem ser substituídos quando quebram. E isso aconteceu e ainda acontece nos dias de hoje, mas isso é tema para outro post. Como qualquer elemento sob constante esforço ou pressão acaba sempre por quebrar – teoria básica de resistência dos materiais – as pessoas começaram por passar essa pressão para cima das famílias. Eu me lembro de anos em que trabalhei 12 a 14 horas por dia, 6 a 7 dias por semana. E infelizmente não sou um caso raro. O tempo para a família era raro ou inexistente, a qualidade das relações com os amigos foi baixando – tínhamos todos mais ou menos o mesmo ritmo – e a saúde também ia paulatinamente para o espaço – almoços em cinco minutos, junk food, nenhuma pratica esportiva etc, etc. Imaginam o filme, não é?

Tudo isto é apenas para fixar o contexto da conversa. Algum gênio pensou então que uma forma de melhorar a produtividade seria de aproximar a família da empresa. Já que Maomé ia cada vez menos à montanha...

E então começam a aparecer os famosos family-days. Confesso que ainda não sei se gosto da idéia ou não. Um dos pontos positivos é que, ao possibilitar a ida da família para o universo do empregado, esta entende, reconhece e respeita mais e melhor o profissional. Quem nunca se sentiu pouco reconhecido em casa? Talvez até amenize um pouco da pressão familiar para ser melhores pais etc? O profissional se sente reconhecido e incentivado? Sim, sem dúvida. Mas isso é uma faca de dois gumes (ou dois legumes, como ouvi por aí, bem mais saboroso), porque isso serve mais o propósito da empresa do que da pessoa. Eu, profissional nessa situação, vou me empenhar mais no meu trabalho e ao mesmo tempo, de alguma forma, consegui uma carta branca para continuar a não fazer tão bem jus ao meu papel de pai/mãe/irmão/filho/amigo etc. Vi este caso de figura em cada país por onde passei, invariavelmente.

Como quase sempre, acredito que a solução está num meio termo. Primeiro, é importante respirar fundo e reconhecer fria e serenamente que o trabalho nunca será tão importante quanto a família. Isso de passá-la sistematicamente para segundo lugar em relação ao trabalho é apenas mais um sintoma da nossa tendência a ser péssimos gestores de prioridades. Já que temos que trabalhar para sustentar as nossas famílias, podemos fazer isso de forma mais amena. Eu lembro-me que quando era pequeno eu adorava ir para o trabalho dos meus pais. E nessas visitas fui aprendendo pouco a pouco o que eles faziam. Não me recordo de ter perguntado diretamente para eles me explicarem o trabalho deles, e no entanto depois daqueles momentos com eles eu – achava – que entendia um pouco mais desse mundo de adultos.

O meio termo que preconizo envolve os dois lados diminuírem um pouco a pressão sobre o empregado, tanto a empresa como a família. Ao mesmo tempo, nós profissionais, de alguam forma precisamos rever as nossas prioridades. Pelo menos falo por mim. É interessante trazer um pouco da família para o trabalho? Os resultados de algumas experiências mostram que na interseção inteligente destes dois universo aparentemente distintos encontramos produtividade, bom humor, colaboração, menos stress etc. E no mínimo seria mais justo, já que levamos muitas vezes o trabalho para a família não é?

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