quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Fluxos migratórios do novo mundo

Faz tempo, não é? Não, o blog não morreu (espero). Apenas uma vítima colateral da minha desorganização temporal ;)

Mas, vamos lá!

No outro dia fui à “feira dos importados”, aqui em Brasília. Já não ia lá há muito tempo e encontrei uma nova realidade. Venho notando com o tempo que os “mercados populares” são um bom barômetro dos fluxos migratórios de um país. Pelo menos os “entrantes”. Quando cheguei a Brasília, há quase 7 anos atrás, havia um uma predominância de lojas mantidas por brasileiros de diversas regiões. O outro pedaço era interessantemente ocupado pelo que me pareciam ser libaneses ou tunisinos. Ou talvez turcos. Estes, normalmente eram donos das lojas de informática. Um pedaço menor era chinês. Bem menor.

Desta vez encontrei um cenário totalmente diferente. Chineses por todo o lado. Os norte-africanos parecem ter desaparecido e os brasileiros resistem bravamente.

Lembrei-me de Lisboa, da avenida almirante Reis á praça do Martim Moniz. Quando eu morava lá, as lojas da avenida pertenciam a portugueses e indianos, enquanto os dois “shoppings” estava majoritariamente ocupados pelas ex-colonias africanas – Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde, essencialmente. Hoje esse panorama também mudou muito. Durante um momento, a imigração dos países eslavos tentou entrar nesse mercado, mas a barreira da língua foi demasiado forte e eles foram ocupar espaço na construção civil (para os homens) e trabalhos domésticos (para as mulheres). Durante os anos que passei lá vi uma mudança clara na sociedade que se compunha, com base nesse choque cultural. Infelizmente, os emigrantes que chegavam em busca de melhores condições de vida nem sempre tinham dinheiro sequer para comprar comida. Então, não era raro vê-los à porta dos supermercados e restaurantes na hora do encerramento, á espera do momento que os restos – ainda perfeitamente comestíveis – eram jogados no lixo, para ver se aproveitavam alguma coisa. No início, eram os africanos que esperavam. Depois de uns anos, os africanos faziam compras e pagavam no caixa, enquanto os emigrantes dos países do leste europeu – russos, bielo-russos, eslovacos, romenos – esperavam à porta. Depois, os eslovacos aprenderam a língua e, diferentemente dos africanos, puderam se identificar para o mercado como médicos, economistas, sociólogos e cientistas que eram. Foram se inserindo pouco a pouco na sociedade até serem substituídos à porta dos restaurantes pelos recém-chegados chineses e coreanos.

O meu passeio pela “feira dos importados” me levou de volta ao mesmo pensamento que eu tinha formulado com a imigração asiática em Lisboa: a falta de inserção é impressionante. E sempre me pergunto porquê. Na feira, como em Lisboa, eles mal falam português e no entanto dominam completamente a praça. As lojas de roupas, óculos, bijuteria e perfumaria barata, relógios e eletrônicos são todas deles.
 
Detesto esse “deles” porque me distancia involuntariamente. É tão fácil cair na armadilha do “eles” e “nós”, facilitado pelo incapacidade preconceituosa em distingui-los uns dos outros (imagino que eles também tenham a maior das dificuldades em distinguir um português de um espanhol, um italiano de um francês, um brasileiro de um argentino,etc.
 
A verdade é que me senti triste por eles ao ponto de fugir da feira sem resolver o problema que me tinha levado lá.
 
Para entender de onde veio a minha tristeza, aconselho o documentário abaixo, intitulado “Last train home”. O documentário toca unicamente no tema do fluxo migratório no novo ano chinês. Transponham isso à escala planetária.
A solidão deve ser surreal, talvez a razão de eles formarem grupos tão fechados, tão herméticos e coesos, onde quer que estejam. Falam pouco com os locais, as crianças brincam entre elas – pelo menos até entrarem na escola, a comida também é de “lá” ou o mais de “lá” que os ingredientes daqui permitiram. E têm certamente todos os problemas que enfrentamos no dia a dia, sejam eles com o preço da gasolina, como com a educação das crianças, inserção social, sexualidade,amor, etc. Tudo.
 
Enfim, uma situação triste causada mais uma vez pela globalização. O trabalho escravo não desapareceu. Apenas tomou nova cara, se deslocou, se pintou com outras cores. E são quase sempre os mesmo que pagam a conta. Infelizmente. Apenas um desabafo...