quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Como melhorar a educação pública?


Tanto em Portugal como no Brasil o consenso é que a educação pública é péssima. Hoje em Portugal o assunto até custou a maioria ao governo nas eleições legislativas. No Brasil o discurso parece ser idêntico. A maioria dos pais quase que não considera colocar os filhos em escolas públicas, com medo que isso represente um handicap para o futuro das crianças. Na palestra de abertura conferencia do Ethos 2009 o educador colombiano Bernardo Toro fez uma simples pergunta à platéia: quem tem o(s) filho(s) em escolas ou universidades públicas? Das cerca de 800 pessoas presentes, menos de 10 levantaram a mão. E eu não fui uma delas. Foi um choque de realidade edificante. A essa pergunta, Bernardo continuou com outra: como querem que a educação pública melhore se não somos usuários do sistema? Ou melhor, que direito temos nós de exigir isso dos governantes – que nós lá colocamos para nos servir – se os nossos filhos são alunos de escolas/universidades privadas, que na sua grande maioria são medíocres operações de marketing educativo (aliás, lembrem-me de falar disto em outra entrada deste blog, ok?). É uma hipocrisia gigantesca da nossa parte, e incluo-me no grupo dos hipócritas.

Para mim foi mais um daqueles momentos que definem um caminho, uma escolha, um posicionamento. No dia seguinte conversei com a minha cara metade, sobre a possibilidade de trocarmos a escola do baixinho. Coincidentemente ela também achou boa idéia, mas aproveitou para me lembrar que isso quer dizer que teríamos que estar muito mais envolvidos na educação dele, desafio que encaramos na boa. Recolhemos opinião de familiares e amigos, surpreendentemente positivas no cômputo geral, e desde então estamos à procura da melhor opção. Pode ser que em Brasília essa decisão seja mais fácil do que em outros lugares por talvez existirem ainda boas escolas publica na cidade. O estranho é que mesmo assim a maioria dos pais preferem o privado. E mesmo no grupo de pessoas informadas que entendem importância da decisão, algumas me disseram quem íamos “jogar com o futuro dos outros”. Vai ser uma caminhada longa.

O ultimo ponto que queria tocar sobre o mesmo assunto, é um projeto lei que supostamente obrigaria os representantes eleitos a colocar os filhos no sistema educacional público e a usar também o sistema de saúde público. Infelizmente não encontrei nenhuma informação. Não deixa de ser um assunto importante de ser discutido pela sociedade civil. Eu sou 100% a favor dessa lei. É simplesmente uma questão de coerência!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma história de benefícios colaterais...


Lembram do efeito borboleta? Dizia algo como “o bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no intervalo de tempo de semanas”.

Tenho uma história para vos contar. Alguns de vocês ouviram na mídia a notícia da entrega de 54 casas para os membros da Reciclo, uma cooperativa de catadores de lixo. As casas, situadas no Riacho Fundo II, têm de cerca de 40 metros quadrados, contam com sala, cozinha, banheiro e dois quartos, além de itens de ecoeficiência, como aquecimento solar alternativo, que, além da proteção ambiental, proporcionará significativa redução no valor da conta de luz dos beneficiados. Estive presente na cerimônia de entrega e imagina a emoção de quem entra em casa própria pela primeira vez, depois de ter vivido em baixo de pontes ou em casebres de lata e papelão.

A história que levou a esse momento é um exemplo de como a ação de uma pessoa importa e pode surtir efeitos. Um colega de trabalho nosso, Lisarb Mello, empregado da FENAE Federação, passeava de bicicleta um dia e passou perto de um agrupamento de famílias, situado num terreno invadido em Taguatinga (DF). Ao observar a situação precária em que viviam - barracos de lona, sem água potável nem luz elétrica, vivendo da venda da coletada de lixo, dividindo o espaço com a rede elétrica da área, que provocava curtos-circuitos e choques constantes – ele decidiu ajudar e trabalhar com eles alguma forma de associativismo para que, juntos, pudessem gerar maiores benefícios para toda a comunidade. A participação dele acabou por contar com o apoio de colegas e da própria empresa, que disponibilizou a sua estrutura para ajudar no que fosse necessário. Pouco a pouco se gerou uma “corrente do bem” que possibilitou não só a formalização da Cooperativa, mas também a “adoção” da mesma pela CAIXA. A Cooperativa passou a fazer a coleta do lixo em algumas unidades da CAIXA e assim acabou por entrar no CAIXA ODM, que possibilitou a posterior entrega das casas acima citadas. O mais extraordinário disso tudo é que a obtenção das casas nunca foi um objetivo das pessoas envolvidas. O objetivo principal sempre foi ajudar a criar uma estrutura que pudesse gerar e gerir renda de forma consistente, para que isso a prazo proporcionasse condições de vida dignas para os cooperados – inclusive moradia. Num mundo que fala muito de dano cloateral, as casa são, claramente um benefício colateral :D

Sempre fico fascinado com a capacidade que o ser humano tem de se engajar com causas. Vindo do universo 100% corporativo, procuro que nem ouro, saber o que provoca nas pessoas essa motivação absurdamente altruísta.

Se alguém souber...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mundo democrático ou mundo inclusivo?

Trabalhar com RSE e sustentabilidade é um permanente exercício funambulesco, onde cada passo que damos põe em causa todo o caminho trilhado e obriga a recalcular a trajetória pela frente.

Eu nunca tive muito conforto com esta coisa chamada democracia. A lei da maioria nunca me pareceu fazer sentido, sobretudo em um mundo onde ainda hoje a maioria não tem acesso às chamadas condições básicas de vida digna – alimentação, saúde e educação. E a democracia envolve que essa maioria desnutrida, doente e deseducada faça escolhas conscientes sobre o seu futuro. Já experimentaram escolher roupa quando estão com muita fome? Ou votar num político quando estão com febre? Ou ainda opinar sobre o um assunto sem informação para fundamentar a escolha? Eu sei que não consigo.


No meu exame de fim do secundário, o tema da dissertação de filosofia era algo como “se assumimos que a sabedoria é um atributo de poucos, porque seguimos a decisão da maioria?”. A essa pergunta eu sempre me vi responder que a democracia com todos os seus defeitos, de todos os sistemas conhecidos de gestão de sociedades civis, é o “menos mau”. Tenho tendência em discordar. A análise fria dos números, desde que a democracia vai avançando no planeta azul mostra que o número de mortos em guerras aumentou, a desigualdade social disparou, os movimentos extremistas (políticos e religiosos) fortaleceram, e nem falo do ritmo de destruição dos recursos naturais. Mas isso é outra historia.

O que eu queria realmente salientar é a violenta mudança de paradigma que a sustentabilidade obriga: de um mundo democrático precisamos pensar em um mundo inclusivo.

A lei da maioria não pode ser bússola se pelo caminho ficarem muitos. O tal Mundo melhor, de certeza que não será melhor se só alguns lá chegarem. Temos que chegar juntos, pobres e ricos, fortes e fracos, mulheres e homens, pretos, brancos, coloridos, heterossexuais e homossexuais, jovens e velhos, deficientes ou não, criacionistas e evolucionista, religiosos e ateus, com deus/allah/Jeová/etc, o que seja (posso continuar horas...). Aqueles que se acham respaldados pela ilusão da maioria democrática precisam rever urgentemente os seus princípios.

A palavra de ordem é inclusão, um conceito absolutamente oposto à exclusão naturalmente gerada pela maioria democrática. Ou todos, ou ninguém...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Publicidade desastrosa da Unimed

Eu não consigo perceber COMO é possível uma publicidade destas aparacer no nosso milênio. Já pesquisei pela net por algum posicionamento da Unimed, alguma colocação dizendo que é hoax (mentira, trote) ou pedindo desculpa pelo erro, e nada... silencio total. Fui até no site deles e para minha surpresa não encontrei nenhum canal para falar com eles (pode ser falta de atenção minha ou o trabalho de um pessimo arquiteto de informação...).

O pior de tudo é que as pessoas que falam do assunto por aí, falam com o tom de piada, ninguém se indigna ou escreve para a Unimed para pedir explicações...

Quem mundo...


terça-feira, 1 de setembro de 2009

A discriminação da mulher no mundo corporativo

Discriminação (latim discriminatio, -onis, separação),s. f.
  1. Ato ou efeito de discriminar = distinção
  2. Ato de colocar algo ou alguém de parte
  3. Tratamento desigual ou injusto dado a uma pessoa ou grupo, com base em preconceitos de alguma ordem, nomeadamente sexual, religioso, étnico, etc.
Durante muito tempo discordei com as ações chamadas de “discriminação positiva”. É, para mim descriminação é discriminação e não existe nada de positivo nela. Distinguir uma pessoa de outra unicamente por características que em nada dependem dela (para bem e para mal) é, por definição, algo profundamente injusto. Com essa premissa básica, sempre fui contra o sistema de cotas para seja o que for.

Com o passar do tempo talvez venho perdendo a inocência, a sensação que a justiça prevalece, o bem vencerá etc, etc, e surpreendo-me a pensar que infelizmente a justiça e o bem precisam de um empurrão de vez em quando. No mundo do trabalho isso é tão visível quando se trata da mulher. Em muitas empresas encontramos uma maioria de mulheres, sem que no entanto essa representatividade se mantenha nos cargos decisórios. E sabemos todos que não é por incompetência nem por falta de inteligência ou ainda de disponibilidade. O preconceito da sociedade em geral reduz as mulheres à sua capacidade reprodutiva – e mesmo nesse tema ela não tem todo o domínio, já que essa mesma sociedade diz que ela não pode fazer do corpo dela o que bem entender, mas isso é outra história – e transfere para o homem o papel de provedor, sem pedir a opinião de nenhum dos dois. Resultado, quando as mulheres tentam se inserir no mercado do trabalho, depois de devidamente capacitadas, fazem face a todo o tipo de dificuldade:
  • Se ainda não teve filhos é porque vai ter
  • Se já teve filhos é porque vai ter que faltar por causa deles
  • O mercado de trabalho é duro e implacável e a mulher não se enquadra
  • Tem de encarar o assédio e falta de respeito dos homens: a grande maioria de mulheres não se queixa de assédio, mesmo quando esse acontece de fato e é humilhante
  • Se sobe na carreira é porque ou não é feminina - é muito “homem” - ou pior, pagou com favores sexuais
  • Falta-lhe pragmatismo para os negócios
  • Etc, etc (infelizmente poderia continuar horas)..
E isso tudo acontece a aquele que a sociedade politicamente correta chamava até há pouco tempo de sexo fraco. Que coisa absolutamente incongruente! Mas então se é fraco não deveríamos precisamente ajudar? E olhem que eu parto propositadamente dessa premissa profundamente discutível.

Até há bem pouco tempo eu acreditava que, agora que os conceitos de sustentabilidade e de responsabilidade social empresarial estavam pouco a pouco e entrar na estratégias das empresas, a mulher (e o negro, e o índio, e o deficiente, e o homossexual, e o adolescente aprendiz etc...) ia conquistar progressiva e justamente o seu lugar. Pois bem amig@s, sabemos que a realidade ainda assim continua outra. Só foi preciso uma mulher me lembrar um principio básico de física: 2 corpos não podem ocupar o mesmo espaço finito. Portanto, para a mulher ocupar mais espaço na sociedade, nas empresas, o homem tem de estar disposto a abdicar da mesma proporção de espaço. Simples!

E como isso pode acontecer? Aí entra a famigerada discriminação positiva: se existe falta de mulheres em cargos decisórios, então vamos recrutar mulheres!

Vai ser fácil? Não! Mas como Kennedy já dizia aos seus conterrâneos nos anos 60, quando tentava galvanizar os espíritos para conquista do espaço: “escolhemos ir à Lua nesta década, não porque elas são fáceis, mas porque eles são difíceis, porque esse objetivo vai servir para organizar e medir o melhor de nossas energias e capacidades, porque esse é um desafio que estamos dispostos a aceitar, um desafio que não estamos dispostos a adiar e que pretendemos vencer!”